Novo relatório da organização InfluenceMap denuncia as múltiplas atividades desenvolvidas pelas grandes companhias petrolíferas destinadas a promover o consumo dos combustíveis fósseis (petróleo, etc). Gastando bilhões de dólares, multinacionais como a BP, a Chevron e a ExxonMobil financiam, sobretudo na mídia digital, uma guerra de propaganda contra as ações que visam reduzir a emissão de gases de efeito estufa e sustentam campanhas políticas de negacionismo relacionadas ao aquecimento global e a responsabilidade da mão humana nesses fenômenos.
Por: Equipe Oásis
O urso branco é hoje o principal emblema dos que denunciam o aquecimento global e as mudanças climáticas. O animal, que vive nas imediações do Oceano Ártico, está a caminho da extinção. É vítima indireta das campanhas contra o controle da produção de gases de efeito estufa e para o incremento do consumo de combustíveis fósseis promovidas pelas grandes petrolíferas.
Nos últimos cinco anos, as maiores companhias petrolíferas do mundo investiram mais de um bilhão de dólares em campanhas de lobbying destinadas a bloquear ou a atrasar a adoção de protocolos e leis mais duras e efetivas para mitigar as mudanças climáticas, e para desacreditar o tema do aquecimento global.
Essas revelações – que contradizem frontalmente aquilo que é comumente divulgado pelas grandes petrolíferas quando elas fazem alarde de seus grandes investimentos em energias renováveis -, emergem do relatório publicado pela InfluenceMap, importante sociedade de “interesse público” (Community Interest Company, CIC), sem fins lucrativos, sediada na Inglaterra, que busca documentar e tornar transparentes as atividades desenvolvidas por governos e multinacionais para influenciar a opinião pública.
A classificação das petrolíferas, como aparece no relatório, é capitaneada pela BP, a Chevron e a ExxonMobil. Apenas estas, a partir de 2015, quando foram assinados os acordos de Paris sobre as mudanças climáticas (COP21), já teriam gasto nessas operações mais de 200 milhões de dólares ao ano.
InfluenceMap relata que as grandes do petróleo teriam feito um uso maciço das mídias sociais para desacreditar qualquer iniciativa ou proposta de lei destinada à contenção do aquecimento global e dos seus efeitos.
O relatório revela que essas empresas gastaram anualmente cerca de RS$ 180 milhões em campanhas de branding, reforçando seus compromissos climáticos junto aos diferentes públicos de interesse. Ao mesmo tempo, essas mesmas empresas despenderam US$ 190 milhões anuais desde 2015 para controlar ou adiar políticas públicas em clima e energia, impedindo que governos cumpram com suas promessas de redução de emissões de gases de efeito estufa no âmbito do Acordo de Paris. “As principais empresas de petróleo estão se projetando como atores-chave na transição energética enquanto fazem lobby para atrasar, enfraquecer ou se opor a políticas climáticas significativas”, aponta Edward Collins, analista do InfluenceMap e autor do relatório.
Tudo faz parte de uma estratégia mais ampla
De acordo com o relatório, a assinatura do Acordo de Paris forçou uma mudança na conduta de comunicação das gigantes petrolíferas, já que a percepção pública sobre a questão climática mudou em favor de ações incisivas para enfrentar o problema do aquecimento do planeta. Por isso, a estratégia de comunicação dessas empresas passou a valorizar a preocupação corporativa com a mudança do clima. No entanto, sem conexões mais sólidas entre mensagem e ação, essas companhias acabam praticando greenwash.
Esse esforço seria parte de uma estratégia mais ampla das empresas para proteger e expandir as operações com vendas anuais combinadas de mais de US$ 1 trilhão e lucros de US$ 55 bilhões em 2018, a grande maioria relacionada a petróleo e gás. Os gastos das empresas aumentarão para US$ 115 bilhões em 2019, de acordo com as divulgações corporativas, mas apenas cerca de 3% serão investidos em baixo carbono.
O relatório do InfluenceMap analisou e avaliou detalhadamente os gastos das grandes companhias petrolíferas em atividades relacionadas a clima, tanto diretamente quanto através de parceiros e grupos comerciais. Para tanto, primeiro foram identificaram áreas de atividade corporativa que possam influenciar a política e o branding nas empresas, incluindo pessoal interno, gastos com publicidade e lobby externo, com coleta de dados sobre esses gastos. Depois, analisou-se a proporção de custos dedicada a clima, observando o foco das publicações, propagandas e atividades de lobby.
Uso tático das redes sociais
Uma tendência observada no relatório é o uso tático de redes sociais. Nas quatro semanas que antecederam as eleições de 2018 nos Estados Unidos, a principal empresa petrolífera do país liderou um esforço de US$ 2 milhões em anúncios no Facebook e no Instagram promovendo os benefícios do aumento da produção de combustível fóssil e se opondo a diversas iniciativas legislativas colocadas para votação popular no pleito.
O relatório conclui que as grandes petrolíferas terceirizam o lobby mais agressivo contra ação climática para grupos representativos comerciais, que fez campanha em 2018 para desregulamentar o setor de petróleo e gás e reverter as regulações sobre metano nos Estados Unidos. Esses grupos também vêm coordenando esforços para bloquear políticas para acelerar o desenvolvimento e uso de veículos elétricos nos Estados Unidos e na Europa.
No entanto, as empresas estão enfrentando uma pressão crescente de investidores, políticos e sociedade civil para mudar seu comportamento. Por exemplo, a iniciativa Climate Action 100+, que reúne instituições com US$ 30 trilhões em ativos, ajudou a forçar algumas das principais empresas de petróleo do mundo a se comprometer com a reforma de suas práticas de lobby. No plano político, alguns estados norte-americanos estão buscando processos legais climáticos contra essas corporações.
“As credenciais climáticas das gigantes petrolíferas estão esvaziadas, o que coloca sua credibilidade em jogo. Elas apoiam publicamente a ação climática, mas fazem lobby político contra. Elas defendem soluções de baixo carbono, mas esses investimentos são superados pelos gastos em expandir seu negócio de combustíveis fósseis”, aponta Collins. “Há um consenso crescente sobre a necessidade de ação urgente em relação à mudança do clima, unindo cientistas, empresas, investidores e a sociedade civil em geral. Este relatório fornecerá munição para pressionar por regulamentos significativos e obrigatórios nas operações dessas empresas”.
O relatório está disponível neste link:
https://influencemap.org/report/How-Big-Oil-Continues-to-Oppose-the-Paris-Agreement-38212275958aa21196dae3b76220bddc
Website: https://influencemap.org/report/How-Big-Oil-Continues-to-Oppose-the-Paris-Agreement-38212275958aa21196dae3b76220bddc