O aquecimento global está empurrando populações de animais marinhos para zonas cada vez mais distantes do Equador, e cada vez mais próximas das áreas polares. Na foto de abertura, um cardume de robalos, uma das espécies tropicais que estão migrando para regiões mais frias.
Por: Luis Pellegrini
Os oceanos, hoje é coisa tristemente sabida, estão cada vez mais quentes. Desde a Revolução Industrial, no início do século 19, até os dias de hoje, a temperatura média deles aumentou de cerca 1 grau centígrado. Muitas projeções da climatologia afirmam que ela subirá mais 1,5 grau até 2050. É lógico e previsível, portanto, que alterações tão radicais das condições climáticas das águas de todo o mundo tenham consequências sobre todos os animais marinhos, do plâncton às baleias.
O aquecimento global desloca as espécies em direção às zonas polares.
Um novo estudo publicado no site Current Biology explica exatamente como está mudando a vida das espécies oceânicas, e como o aumento das temperaturas as esteja empurrando cada vez mais em direção aos polos e sempre mais distantes do Equador.
Um século cada vez mais quente
A equipe de pesquisa da Universidade de Bristol (GB) autora da descoberta, partiu de uma consideração bastante simples: existem infinitas provas de que o aquecimento global está provocando efeitos não apenas sobre a abundância de algumas espécies, mas também sobre a sua distribuição geográfica. E visto que estamos falando de um aumento generalizado das temperaturas nos oceanos, Martin Genner, um dos autores do estudo, lançou a hipótese de que esses deslocamentos de populações pudessem ser unidirecionais, e sempre em direção a zonas mais frescas. A equipe analisou as variações nas populações de 304 espécies marinhas no decurso dos últimos 100 anos, para verificar se a hipótese fosse verdadeira. Não é preciso dizer que sim, era verdadeira.
A maior parte das espécies estudadas demonstrou a existências de duas tendências bastante precisas, e com frequência coexistentes, no seio de uma mesma espécie: uma queda numérica das populações que vivem em áreas equatoriais, e um incremento do número daquelas que se dirigem em direção aos polos. Em outras palavras, todas as espécies marinhas estão se deslocando em direção aos polos e abandonando as zonas equatoriais, cada vez mais quentes e difíceis de serem habitadas.
Isso significa que as populações equatoriais de algumas espécies (por exemplo a do pinguim imperador) estejam vivendo uma drástica queda numérica, enquanto outras espécies (por exemplo a do robalo) surjam com frequência crescente mais ao norte, em águas até onde pouco tempo atrás só apareciam raramente.