Animais terapeutas. Eles podem nos curar?

 

Nas duas últimas décadas, houve em todo o mundo um notável incremento do uso de animais de estimação como aliados terapêuticos sobretudo para restaurar a comunicação de crianças autistas e para mitigar o sofrimento dos doentes de Alzheimer.

Por: Anne Lefèvre-Balleydier – Le Figaro Santé

No delfinário de Eilat, estação balneária situada no extremo sul de Israel, existem oito golfinhos que vivem soltos na natureza, em um vasto parque marinho de águas azuis-turquesa transparentes, aberto para o alto mar. Apesar de serem livres, esses cetáceos são seguidos e acompanhados de muito perto, pois há vinte anos eles constituem o ponto central de um ambicioso programa de terapia destinada aos humanos que sofrem de autismo ou de estresse pós-traumático ligados a problemas de comunicação. Todos os anos, cerca de trinta pacientes são entregues aos cuidados desses animais.

“Se falamos dos golfinhos em si mesmos, é preciso reconhecer que os resultados obtidos ainda são motivo de opiniões controvertidas.”, explica Jérôme Michalon, sociólogo e autor, em 2011, de uma extensa pesquisa sobre as práticas terapêuticas que fazem uso da presença de animais. Os resultados desse trabalho foram usados para a sua brilhante tese de doutorado. Para Michalon, sempre no caso dos golfinhos, apesar das controvérsias não se pode em absoluto jogar fora tais experiências. Esse estudioso segue a posição adotada na França, de designá-las com o termo de “mediação animal”, para se evitar o uso da palavra terapia. Mas o fato é que, desde o final dos anos 1970, quando começaram, tais práticas se mostraram bem eficazes, sobretudo no uso de cavalos e pequenos animais de companhia como cães e gatos, em diferentes contextos.

Uma presença apaziguadora

“Muitos estudos foram centrados nos cães, e não faltaram críticas de que eles eram direcionados, já que eram financiados em grande parte pela indústria de alimentos para animais de estimação”, esclarece o sociólogo. “Mas mesmo se isso tivesse uma ponta de verdade, não há dúvidas de que tais pesquisas permitiram um grande avanço dos estudos que, até então, eram abordados apenas de maneira esparsa e aproximativa”.

Esses estudos mostraram, desde o início, o interesse do contato com um animal, sob a direção de um terapeuta, para desenvolver ou restaurar uma comunicação problemática, seja no caso de jovens autistas ou de pessoas idosas que sofrem do mal de Alzheimer. Eles também ressaltaram e colocaram em evidência o efeito apaziguador e os benefícios de um animal de companhia na prevenção de doenças cardiovasculares. Embora, na opinião de alguns, tais benefícios não estejam ligados diretamente ao animal escolhido, mas sim à representação psicológica que temos dele…

“Os cães e os gatos gozam de uma imagem bastante positiva nas nossas sociedades ocidentais, como animais de companhia”, esclarece Jérôme Michalon. O mesmo acontece com o cavalo, domesticado há muito tempo, e também com o golfinho, associado à figura do animal salvador. Pois bem, nas pesquisas epidemiológicas, o que melhor explica os efeitos positivos do contato com animais é o status desse animal. O fato de que, culturalmente, temos dele a imagem de um ser “que conta, que importa”, de um ser benévolo e que não faz julgamentos. Tal representação do animal possui, portanto, um significado essencial nos cuidados terapêuticos, tanto para o paciente quanto para o terapeuta que o acompanha. Eis por que, segundo Michalon, os estudos que buscam avaliar tais práticas ocultando essa dimensão são, em geral, “contraproducentes”.

Nos anos 1990, no delfinário de Bruges (na Bélgica), experiências feitas com autistas produziram resultados muito positivos quando os terapeutas faziam questão de manifestar e compartilhar o entusiasmo que normalmente provoca o encontro próximo entre um golfinho e um paciente, sobretudo quando se trata de uma criança. Mas os resultados eram bem menos bons quando, numa segunda fase, foi solicitado aos terapeutas para não manifestar nem comunicar seu entusiasmo, permanecendo “neutros”.

Ainda em fase de estudos experimentais, ainda não oficialmente aprovada como técnica terapêutica, nem por isso a mediação animal deixa de progredir a passos largos. Cães sobretudo, mas também gatos, são hoje considerados como aliados terapêuticos em muitas clínicas e retiros para pessoas idosas, no mesmo nível que a osteopatia ou a kinesioterapia. Sem esquecer que, passo a passo, e sem alarde, os animais “terapeutas” são admitidos também em alguns hospitais…

Vídeo: Gato massagista

 

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