A busca do crescimento espiritual produziu obras de arte de extraordinária beleza. Nessa busca, um dos mais belos textos escritos é “Desfazendo equívocos”, da monja budista Yvonette Silva Gonçalves. Paraibana de Campina Grande, casada com o também monge budista Ricardo Mário Gonçalves, falecida há pouco mais de um ano em São Paulo, ela produziu este verdadeiro poema em prosa, carregado de toda a profunda sabedoria e simplicidade da filosofia budista. Ensinamentos para serem meditados nesta hora tão difícil para todos nós, sem importar a qual religião pertencemos.
Por: Monja Yvonette S. Gonçalves
Se você quer milagres, não procure o buddhismo. O supremo milagre para o buddhismo é você lavar seu prato depois de comer.
Se você quer curar seu corpo físico, não procure o buddhismo. O buddhismo só cura os males de sua mente: ignorância, cólera e desejos desenfreados.
Se você quiser arranjar emprego ou melhorar sua situação financeira, não procure o buddhismo.
Você se decepcionará, pois ele vai lhe falar sobre desapego em relação aos bens materiais. Não confunda, porém, desapego com renúncia.
Se você quer poderes sobrenaturais, não procure o buddhismo. Para o buddhismo, o maior poder sobrenatural é o triunfo sobre o egoísmo.
Se você quer triunfar sobre seus inimigos, não procure o buddhismo. Para o buddhismo, o único triunfo que conta é o do homem sobre si mesmo.
Se você quer a vida eterna em um paraíso de delícias, não procure o buddhismo, pois ele matará seu ego aqui e agora.
Se você quer massagear seu ego com poder, fama, elogios e outras vantagens, não procure o buddhismo. A casa de Buddha não é a casa da inflação dos egos.
Se você quer a proteção divina, não procure o buddhismo. Ele lhe ensinará que você só pode contar consigo mesmo. Se você quer um caminho para Deus, não procure o buddhismo. Ele o lançará no vazio.
Se você quer alguém que perdoe suas falhas, deixando-o livre para errar de novo, não procure o buddhismo, pois ele lhe ensinará a implacável Lei de Causa e Efeito e a necessidade de uma autocrítica consciente e profunda.
Se você quer respostas cômodas e fáceis para suas indagações existenciais, não procure o buddhismo. Ele aumentará suas dúvidas.
Se você quer uma crença cega, não procure o buddhismo. Ele o ensinará a pensar com sua própria cabeça.
Se você é dos que acham que a verdade está nas escrituras, não procure o buddhismo. Ele lhe dirá que o papel é muito útil para limpar o lixo acumulado no intelecto.
Se você quer saber a verdade sobre os discos voadores ou sobre a civilização de Atlântida, não procure o buddhismo. Ele só revelará a verdade sobre você mesmo.
Se você quer se comunicar com espíritos, não procure o buddhismo. Ele só pode ensinar você a se comunicar com seu verdadeiro eu.
Se você quer conhecer suas encarnações passadas, não procure o buddhismo. Ele só pode lhe mostrar sua miséria presente.
Se você quer conhecer o futuro, não procure o buddhismo. Ele só vai lhe mandar prestar atenção a seus pés, enquanto você anda.
Se você quer ouvir palavras bonitas, não procure o buddhismo. Ele só tem o silêncio a lhe oferecer.
Se você quer ser sério e austero, não procure o buddhismo. Ele vai ensiná-lo a brincar e a se divertir.
Se você quer brincar e se divertir, não procure o buddhismo. Ele o ensinará a ser sério e austero.
Se você quer viver, não procure o buddhismo, pois ele o ensinará a morrer.
Se você quer morrer, não procure o buddhismo, pois ele o ensinará a viver.