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Alcoolismo em mulheres. Elas hoje bebem tanto ou mais que os homens

 

Um estudo mundial publicado há poucos dias pelo British Medical Journal (BMJ) revelou que as mulheres hoje bebem tanto ou mais que os homens em numerosos países do Ocidente. Pesquisas anteriores mostravam que no caso das pessoas nascidas entre 1891 e 1910, os homens eram 2,2 vezes mais suscetíveis do que as mulheres de consumir bebidas alcoólicas de modo problemático. Essa relação caiu hoje para 1,1 a 1,2 para as pessoas que estão entre os 16 e os 25 anos. O professor Michel Reynaud, especialista em pacientes drogados, presidente do Fonds Actions Addictions, na França, comenta as consequências dessa evolução.

Le Figaro – O que lhe vem à mente ao analisar o estudo que mostra o aumento do consumo de álcool pelas mulheres em nossa sociedade ocidental?

Michel Reynaud – O que mais me impressionou é que o fenômeno é mundial para as mulheres nascidas a partir dos anos 1990. Para mim isso mostra claramente que as mulheres se tornaram alvos específicos do marketing dos grandes produtores de bebidas alcoólicas. Isso é confirmado pela aparição no mercado, durante os anos 2000, de produtos pensados especificamente para as mulheres: vodcas com marcas de grandes estilistas, cervejas mais leves, mais vinhos do tipo rosé, etc. As autoridades deveriam passar a considerar as mulheres como alvos de campanhas de prevenção.

O que foi que mudou nesse período?

Nas gerações precedentes, a mulher que se embriagava era mal vista, passava a ser considerada não frequentável e o alcoolismo feminino era vivido na vergonha e no segredo. A mudança ocorreu ao redor do a no 2000. A embriaguez feminina passou a ser considerada normal, a par daquela dos homens, as mulheres jovens não têm mais vergonha de se mostrar bêbedas nas páginas do Facebook. O estado de embriaguez passou a ser um aspecto como qualquer outro típico do estereótipo da mulher jovem, moderna e educada. É por sinal dentro dessa categoria da população feminina que encontramos os maiores e mais numerosos problemas de dependência, enquanto que para os homens, o problema só se agravou em termos numéricos para as pessoas que pertencem a classes sociais mais baixas.

Esse aumento do consumo de álcool pelas mulheres acarreta consequências para a saúde delas?

Numerosos estudos mostraram que o organismo das mulheres é mais vulnerável que o das mulheres aos efeitos nefastos do alcoolismo, tanto ao nível do fígado quanto do cérebro. Com o aumento do consumo de álcool, hoje há mais mulheres do que homens que recorrem aos prontos socorros por serem vítimas de acidentes ou de agressões sexuais, ou em estado de coma alcoólico. Observa-se também um incremento das complicações do pâncreas e do fígado. Isso é claramente perceptível nos serviços de atendimento a drogados. O próximo passo deverá ser um aumento do número de casos de cânceres associados ao álcool nas regiões da laringe, do fígado e das mamas.

A partir de quanto álcool consumido ele se torna um problema para a mulher?

A partir de 2 copos (ou doses) por dia de qualquer bebida alcoólica, ou a partir de 4 copos (ou doses) ocasionais (em festas ou reuniões de família, etc). Claro, todos têm o direito de se expor aos riscos que bem entenderem. Mas deve-se ter consciência clara de que quanto mais repetimos tais exageros mais arriscamos a saúde e estamos em perigo. 5 a 10% dos consumidores de álcool desenvolverão uma dependência. Mas a dependência não se instala do dia para a noite. É possível e necessário, portanto, intervir para proteger um próximo quando constatamos que tais situações problemáticas se repetem.