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Esperança. A base do amor, da paz e do sucesso

 

Emoção fundamental para a cura e o bem-estar, a esperança ainda é pouco pesquisada pela ciência. Mas já se descobriu que até os que não a trazem do berço podem adquiri-la e aprimorá-la

Por: Eduardo Araia

A esperança é a última que morre, diz o ditado. Essa associação com o último suspiro a torna um elemento precioso em termos de saúde, de realização interior e de qualidade de vida. Alguns psicólogos veem nela a sensação ou emoção mais importante que o ser humano pode experimentar. Mas enquanto determinadas pessoas esbanjam esperança, como se as colhessem numa fonte inesgotável, outras se arrastam pela existência, totalmente estranhas a essa sensação. Ser esperançoso seria, então, uma característica inata e inacessível a muitas pessoas? A moderna pesquisa psicológica afirma que não.

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Desde os anos 1950, psiquiatras, médicos e estudiosos de outras áreas têm demonstrado interesse na esperança pelo potencial de cura contido nela. Foi só na década de 1990, porém, que o assunto ganhou o primeiro plano, graças às investigações do psicólogo norte-americano C. S. Snyder, autor do livro The Psychology of Hope: You Can Get There from Here (Free Press). Falecido em 2006, Snyder entendia a esperança como uma “ideia motivacional” que possibilita a uma pessoa acreditar em resultados positivos, elaborar metas, desenvolver estratégias e reunir a motivação para colocá-las em prática.

Diferenças entre quem tem e quem não tem esperança

Snyder criou uma “Escala da Esperança” e, numa apresentação na American Psychological Association (APA), em 2005, mostrou os resultados de mais de uma década de aplicação desse recurso. Segundo suas conclusões, pessoas com “baixa esperança” têm objetivos ambíguos e trabalham para atingi-los um de cada vez. Já os indivíduos com “alta esperança” frequentemente investem em cinco ou seis metas distintas ao mesmo tempo. As pessoas esperançosas traçaram rotas para o sucesso e caminhos alternativos na eventualidade de encontrarem obstáculos – uma providência que os indivíduos com baixa esperança não tomaram.

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Outras pesquisas acrescentaram mais características positivas à esperança. Segundo alguns estudiosos, ela é fundamental para a pessoa desempenhar bem suas atividades e envelhecer em forma. Os indivíduos esperançosos, afirmam esses pesquisadores, têm mais autoestima, cuidam melhor de seu corpo e têm maior tolerância à dor. Sua forma “eu/nós” de pensar e ajudar os outros na busca do sucesso estimula a fraternidade e o sentimento de grupo.

Ao sintetizar os resultados de uma pesquisa relativa a idosos pacientes de depressão que foram ensinados a pensar com esperança, Snyder observou: “Conforme ficavam mais esperançosos, eles se mostravam mais agradáveis (…) e mais propensos a experimentar a alegria.” Com o treinamento, eles passaram a dar muito mais importância ao lado positivo das coisas e a rir de si próprios e dos outros. “Se você não aprendeu a rir de si mesmo, perdeu a melhor de todas as piadas”, afirmou Snyder.

O grande passo seguinte no estudo do tema veio na virada do século com Anthony Scioli, professor de psicologia do Keene State College, em New Hampshire (EUA). Estudioso do assunto há mais de duas décadas, ele afirma que a esperança é uma emoção extremamente importante, mas ainda “subpesquisada”. Suas pesquisas o levaram a concluir que confirmou que a esperança é uma habilidade que pode ser adquirida e tem múltiplas facetas (há 14 aspectos distintos, segundo o psicólogo, apresentados no quadro a seguir) a serem cultivadas. Além disso, ela se autoperpetua: os esperançosos revelam-se propensos a ser mais resilientes, confiantes, abertos e motivados do que as outras pessoas, e assim tendem a receber mais do mundo – o qual, por seu lado, lhes dá motivos para ficarem mais otimistas.

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Raízes da esperança estão no eu mais profundo

Scioli se interessa pela esperança ligada não a pequenos desejos, mas a grandes sonhos. Em sua opinião, os êxitos “mundanos”, do dia a dia, são importantes, mas equivalem a, no máximo, 1/3 do que ele chama de “essência da esperança”.

O psicólogo norte-americano reuniu um grande volume de informações sobre o tema, reforçadas por sua própria Escala de Esperança, que desenvolveu durante seis anos. Sua teoria – definida por ele como uma “tapeçaria interdisciplinar que combina os melhores lampejos de cientistas, filósofos, poetas e escritores” – estabelece as raízes da esperança no “eu mais profundo”, reconhece a essência espiritual existente por trás dela e a força que ela extrai dos relacionamentos. Para o psicólogo, a esperança dá suporte às relações humanas, proporciona um objetivo e um significado à existência e delineia nossas possibilidades de saúde e de duração da vida.

De acordo com Scioli, a conjunção de três causas – conexão, maestria e sobrevivência – dá origem ao que ele denomina “as raízes e asas da alma, a emoção que chamamos de esperança”. Alimentar adequadamente os motivos da esperança, ele afirma, pode resultar no desenvolvimento de uma “essência esperançosa”, que consiste do “self conectado, do self com poder de decidir e do self resiliente”.

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Scioli enxerga na esperança uma forte dimensão espiritual. Ela está associada a virtudes como paciência, gratidão, caridade e fé. “A fé é o bloco de construção da esperança”, afirma. O vínculo cooperativo que se estabelece não é apenas com o próximo, mas também com uma entidade superior – diferentemente do otimismo, relacionado à autoconfiança.

Há alguns anos, Scioli investigou a importância relativa da esperança, da idade e da gratidão como indicadores de bem-estar. Seu estudo, que envolveu 75 pessoas entre 18 e 65 anos, revelou que o indicador mais poderoso de bem-estar era um alto nível de esperança. Ela também ajuda a reduzir a ansiedade sobre a morte e o morrer.

Em outro estudo, Scioli exibiu para um grupo de adultos na faixa entre 20 e 30 anos um clipe de dez minutos do filme Filadélfia, no qual Tom Hanks interpreta um homossexual que está morrendo de Aids. Após a apresentação, ele aplicou aos voluntários um questionário relativo ao medo da morte e do morrer. Os dados extraídos dali o levaram a concluir que a ansiedade a respeito da morte mantém-se igual em pessoas que obtiveram altas notas em esperança, mas aumenta em indivíduos com notas baixas.

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Conexão mente-corpo

Para Scioli, a esperança reflete, em última instância, a profundidade da conexão mente/corpo. Em dois estudos realizados em 2006, com pacientes de câncer na tiroide e aidéticos, ele observou que os esperançosos relataram melhores condições de saúde e menos sofrimento e preocupação com seu estado físico do que os demais pacientes. Os aidéticos esperançosos, curiosamente, manifestaram menos negação a respeito de suas condições físicas. As observações realizadas indicaram ao psicólogo que a esperança é capaz de afetar o sistema imunológico e a saúde em geral.

“A esperança representa um ‘meio-termo’ adaptativo entre a ‘reação ao estresse’ superativada e o desmotivador ‘complexo de desistir’”, afirmam Scioli e seu parceiro, o também professor de psicologia Henry Biller, no livro Hope in the Age of Anxiety (Oxford University Press). “No nível fisiológico, a esperança pode ajudar a transmitir um equilíbrio da atividade simpática e parassimpática enquanto assegura níveis apropriados de neurotransmissores, hormônios, linfócitos e outras substâncias críticas relacionadas à saúde. Igualmente importante, uma atitude esperançosa pode permitir a uma pessoa manter seu ‘ambiente interno’ saudável na presença de uma enorme adversidade.”

Para Scioli, quem não abriga esperança precisa aprender urgentemente a cultivá-la – e não apenas em momentos difíceis, mas em todos os instantes. “Viver com esperança é a base para conquistar o verdadeiro sucesso, construir relacionamentos amorosos e obter uma genuína sensação de paz”, resume o psicólogo.

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14 facetas da esperança

 Conheça os 14 aspectos da esperança identificados por Anthony Scioli:

Maestria com apoio – A crença de que a pessoa vai atingir seus objetivos e se sente apoiada em seus esforços. Ela compreende que o aumento de seu “poder pessoal” se baseia em uma duradoura abordagem colaborativa para as tarefas da vida e reconhece que o controle está tanto dentro como fora de si.

Fins últimos – Comprometer-se com um conjunto de normas éticas, uma missão, um chamado da vida. Esse tipo de esperança orienta e dirige a vida do indivíduo.

Confiança básica – Esse aspecto se desenvolve normalmente em pessoas bem cuidadas no início da vida, o que é “generalizado” (positiva ou negativamente) para o mundo. Isso é fundamental e influencia a resposta em qualquer situação. Os demais indivíduos podem sempre adquiri-lo por meio de experiências emocionais corretivas com pessoas confiáveis.

Abertura – Quanto mais confiante e esperançosa a pessoa for, mais aberta será para os outros, a natureza, as organizações e diferentes partes de si própria.

Gerenciamento do terror pessoal – Dotada de resiliência e astúcia, a pessoa raramente se sente presa porque tem recursos internos e muita criatividade para sair de situações difíceis.

Gerenciamento do terror social – A pessoa confia na boa vontade dos outros, algo ligado a sentir segurança no início da vida. Ela tende mais a confiar que sobreviverá aos desafios do que a pensar que será abandonada.

Futuro positivo – O futuro da pessoa está repleto de possibilidades e dons, e ela desempenha um papel ativo na determinação de seu futuro.

Fortalecimento espiritual – O indivíduo encara suas ações como parte de um propósito mais amplo e não se sente sozinho em seu esforço ou sofrimento.

Abertura espiritual – A pessoa está aberta a um estímulo espiritual vindo de um poder ou força além de si. Exemplos desse estímulo são mensagens, orientações, bênçãos ou sugestões do mundo espiritual.

Experiência mística – As experiências místicas geralmente originam confiança e fé na bondade do mundo. Podem envolver uma visão de Deus, uma ligação profunda com um ser amado ou um sentimento de unidade.

Universo agradável – O indivíduo acredita que há bondade no mundo e forças de luz que podem repelir qualquer forma de escuridão.

Gerenciamento do terror espiritual – Crenças e valores transcendentes que integram o sistema pessoal de fé impedem o indivíduo de enfrentar a dúvida e o medo em termos existenciais, inclusive em épocas difíceis da vida.

Imortalidade simbólica – Crenças de que a vida continua, de alguma forma, além da morte – exemplificadas pela reencarnação, pela passagem para outros planos ou pela fusão com uma essência maior – ampliam a visão da pessoa em termos existenciais.

Integridade simbólica – O modo de vida da pessoa serve como um “roteiro de esperança” ou mapa espiritual para outros. Essas esperança e maneira de ser arduamente conquistadas emergem em geral apenas no fim da vida.