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Magia dos tecidos. A cosmovisão andina através do tecido

 

O ato de tecer é uma metáfora da vida. Arte metafórica por excelência, a tecelagem existe desde que o mundo é mundo. No jogo entre a trama e a urdidura aparecem representadas todas as soluções sistêmicas que o homem descobriu para se situar no mundo e construir suas civilizações.

Por: Luis Pellegrini

Video: Mariana Tschudi

A arte da tecelagem é uma das primeiras atividades que ocuparam as mãos do ser humano. O tecido aparece desde os primeiros tempos como uma consequência utilitária e complementar da existência. Está ligado às necessidades mais básicas da espécie humana. A primeira invenção do tecido é o entrelaçar, e nesse jogo estão os princípios elementares de todos os sistemas estruturais. Por essa razão, a antropologia diz que a invenção da trama tecida é a organização mais antiga e a mais universal, pois se apresenta em todas as civilizações e grupos sociais do mundo, inclusive nas culturas e etnias mais primitivas que já existiram ou ainda existem no presente.

Trama e urdidura, tempo e destino

O entrelaçar, na verdade, é muito anterior à invenção da roda, como provam as culturas pré-colombianas que não conheciam a roda porém dominavam com maestria a arte da tecelagem. Trata-se de uma arte metafórica que deu origem a um número enorme de mitos desenvolvidos em todas as culturas e em todos os tempos.

Um bom exemplo é o mito grego de Penélope, a tecelã, esposa do herói Ulisses. Quando ele partiu para a Guerra de Tróia, ela soube esperar a volta do marido durante uma vintena de anos, assediada por numerosos pretendentes ansiosos para se casar com ela – e assim herdar o trono de Ítaca. Quando a pressão para que Penélope decidisse aceitar um deles tornou-se excessivamente forte, ela inventou o famoso estratagema que postergava a eleição: prometeu que tomaria um novo esposo assim que terminasse de tecer a mortalha que criava para Laertes, importante ancião da comunidade. Mas o que ela tecia à luz do dia, desmanchava à noite, de modo que o trabalho nunca terminava.

Penélope e sua lida infinita simbolizam virtudes como a perseverança, a fidelidade, a devoção e a paciência, qualidades necessárias para se alcançar o equilíbrio e preservar em grau máximo a própria dignidade. Indo para uma interpretação de oitava superior, o afã de Penélope representa a dualidade, símbolo recorrente do tempo e do destino, no qual a paz e a tolerância permeiam, como na dança entre a trama e a urdidura, o tempo e o destino, o fazer e o desfazer, o dia e a noite, a vigília e o sonho, a inspiração e a expiração.

Vídeo sobre os tecidos urdidos pelas mulheres andinas, criado por Mariana Tschudi, sobre os ensinamentos de Mario Osorio Olazábal. Veja de preferência em tela cheia. Com narração em espanhol: