À medida que o debate público se torna mais tenso e a busca por respostas rápidas domina o noticiário, cresce também um fenômeno difícil de ignorar: a projeção messiânica na política. Ela não é apenas a esperança de que um líder competente resolva problemas complexos – é a fantasia de que surgirá uma figura quase salvadora, capaz de curar crises profundas, restaurar a ordem perdida e conduzir o país a um futuro idealizado. Esse impulso é alimentado pelo cansaço coletivo, pela frustração acumulada e pela sensação de que as instituições tradicionais já não dão conta do recado. Ao lado disso, surge um tipo de devoção que transforma divergências em heresia e crítica em pecado cívico. Mas a questão crucial é: como cultivar participação política sem cair na ilusão de um “redentor”? Como fortalecer a democracia sem esperar que um único nome carregue, sozinho, o peso de todos os nossos medos e todas as nossas expectativas?
Nelson Nunes A projeçào messiânica na política
Deixe uma resposta
