Chineses em Marte. Lançada a Tianwen-1, nova sonda destinada ao Planeta Vermelho

O programa científico da nova missão chinesa é bastante ambicioso: contem um orbitador e dois veículos capazes de se mover na superfície marciana. A chegada está prevista para fevereiro de 2021. Na ilustração de abertura, a Tianwen-1 em órbita de Marte.

Por: Equipe Oásis

A longa marcha da China para Marte começou às 1H40, horário de Brasília, em 23 de julho de 2020, com o lançamento do espaçoporto de Wenchang, na ilha chinesa de Hainan: a missão Tianwen-1, um nome que em chinês significa “perguntas para o céu”, entrará na órbita marciana em fevereiro de 2021, com o objetivo de realizar uma investigação científica abrangente do Planeta Vermelho. Para a China, é a segunda tentativa de chegar a Marte: a primeira, em 2011, terminou mal com um mergulho precoce no Pacífico, depois que o foguete russo que levava o orbitador chinês Yinghuo-1 encalhou devido a um problema técnico ocorrido quando a sonda entrava em órbita terrestre.

A sonda tríplice Tianwen-1 na plataforma de lançamento

Três em um. China que realizar uma proeza

Marte, durante o curto período de algumas semanas, está se movendo a uma distância relativamente mais curta da Terra. Tianwen-1 é uma das três missões marcianas que estão decolando nesta janela de lançamento favorável: as outras são Hope, a missão dos Emirados Árabes Unidos que começou em 20 de julho, e Marte 2020, missão da NASA que teoricamente parte em 30 de julho, mas o mais tardar em meados de agosto, carregando a sonda que dará prosseguimento às tarefas que sondas anteriores como a Curiosity e a Perseverance já realizaram na superfície do Planeta Vermelho. A agência espacial norte-americana poderá se permitir agora, graças à experiência robótica adquirida em Marte, algumas audácias criativas tais como o helicóptero-drone Ingenuity – que tentará voar através da rarefeita atmosfera marciana. A China, por sua vez, deseja recuperar o terreno perdido nos últimos anos, levando três veículos para Marte de uma só vez, um marco técnico que nenhuma outra missão interplanetária jamais alcançou.

A carga de mais de 5 toneladas totais inclui um orbitador que seguirá uma órbita elíptica polar ao redor do Planeta Vermelho e fará observações científicas por um ano marciano (ou seja, por 687 dias); e um par de lander-rovers para a investigação de zonas da superfície marciana. Esses equipamentos deverão permanecer em orbita marciana durante alguns meses, antes de baixarem à superfície. Essa espera calculada, já usada para os desembarques das naves Vikings americanas nos anos 70, permitirá que os cientistas estudem cuidadosamente as condições da atmosfera marciana antes de tentar uma descida que permanece a parte mais perigosa da viagem ao planeta vizinho. O mais complicado na descida até a superfície é tentar frear uma nave que chegou a velocidades supersônicas, para então pousar na superfície sem se espatifar. Grandes nações com uma longa tradição de exploração espacial já fracassaram nessa tentativa. A última foi a Europa com a missão ExoMars, em 2016.

A sonda Tianwen-1 recém pousada na superfície de Marte (Ilustração)

Análise completa

O local de pouso será a Utopia Planitia (Planície Utopia), uma área plana dentro de uma bacia de impacto ao norte do equador marciano. A partir daqui, o rover chinês de seis rodas movido a painéis solares, muito semelhante aos antecessores do NASA Spirit e Opportunity, partirá para uma exploração da superfície que durará cerca de 90 dias marcianos e fará funcionar seis instrumentos científicos (incluindo um radar capaz de vasculhar o subsolo) para estudar a geologia marciana e verificar a presença de gelo. Sete outros instrumentos científicos estarão a bordo do orbitador, que conduzirá observações coordenadas com o rover, concentrando-se na análise da ionosfera marciana, nas características do clima, na medição de campos eletromagnéticos e gravitacionais, bem como na estrutura interna de Marte.

O possível local de aterrissagem é a Utopia Planitia, uma descomunal cratera no hemisfério norte, formada pelo impacto de um meteorito milhões de anos atrás. Ela oferece dois aspectos possivelmente interessantes para um país que tenta pousar em Marte pela primeira vez: a planície é pouco elevada, por isso tem mais atmosfera, o que freia o módulo por atrito, algo fundamental porque o envoltório de gases do planeta vermelho é muito mais fino que na Terra. Além disso, se supõe que esta planície tem um terreno menos acidentado que outros lugares. Mas há um terceiro motivo não declarado que torna esta zona interessante: está cheia de água.

O rover chinês na superfície de Marte (Ilustração)

A estratégia da paciência

O programa espacial chinês está intimamente ligado às operações militares do país e esse recurso, juntamente com o sigilo tradicional que envolve as missões espaciais chinesas, contribuíram para manter um sigilo parcial dos detalhes da missão Tianwen-1. Além disso, as estatísticas mostram que metade das tentativas de pousar sondas em Marte até agora falharam. Mas se, além de qualquer inconveniente possível, o Tianwen-1 chegar a Marte em fevereiro próximo, as imagens tiradas por seu orbitador poderão chegar a nós ao mesmo tempo que as do veículo móvel americano Perseverance. Bastará isso para que a missão chinesa seja considerada um sucesso.

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