As altas temperaturas obrigam as plantas a migrar para latitudes mais altas. Mas uma espécie rival se desloca mais rapidamente e subtrai espaço e nutrientes a uma das árvores mais longevas da Terra. Na Califórnia, o pinheiro “Matusalém” (na foto de abertura), com mais de 5 mil anos de idade, poderá desaparecer.
Por: Luis Pellegrini
Elas já estavam lá quando os sumérios inventaram a escritura cuneiforme. Sobreviveram à ascensão e à queda do Império Romano e a 44 presidentes dos Estados Unidos. Mas agora as árvores mais longevas do planeta, os pinheiros Bristlecone (Pinus longaeva), que resistem nas White Mountains (Montanhas Brancas) da Califórnia, poderão se extinguir devido às mudanças climáticas.
Por causa do aumento das temperaturas médias, essas árvores podem ser suplantadas por árvores mais jovens, capazes de se adaptar facilmente às altas quotas, regiões nas quais o clima é mais adequado ao crescimento dessas plantas. Este é o grito de alarme lançado pelos cientistas da instituição Califórnia Davis, segundo os quais não resta muito espaço disponível em altas quotas para tais árvores, que sobrevivem um pouco abaixo do cume das montanhas.
Vídeo: Bristlecone Pine Tree Ranger Minute
O vídeo abaixo mostra um guarda florestal do Great Basin National Park, na Califórnia, morada de algumas das árvores mais velhas de todo o planeta Terra: os pinheiros Bristlecone. O narrador conta, em inglês, a história de um exemplar dessa espécie de pinheiro, a árvore chamada de “Matusalém”, com idade calculada de 5 mil anos e considerada a mais velha do mundo.
Os pinheiros Bristlecone dominam a paisagem fria e desértica, situada entre os 2900 e os 3500 metros de altitude, caracterizada por rochas calcárias, ar frio e seco e chuvas muito escassas. Na mesma quota, mas vivendo sobre terrenos mais arenosos e graníticos, encontram-se os Pinus flexilis, outras plantas locais muito resistentes. Nessa altitude e com poucas espécies competidoras devido à escassez de nutrientes, os pinheiros Bristlecone crescem apenas cerca de 2,5 centímetros por ano, e podem continuar crescendo durante milênios. Um deles, o exemplar que foi apelidado de “Matusalém”, tem 5.062 anos de idade e é a árvore mais velha do mundo.
Quem chega primeiro, sobrevive
As mudanças climáticas obrigam plantas como essas a subir constantemente de quota para encontrar temperaturas adequadas à sua sobrevivência, à medida que o seu habitat original se aquece. Mas os pesquisadores perceberam que a maior parte dos pinheiros jovens que podem ser observados em alta quota pertencem à espécie Pinus flexilis.
Com a cumplicidade de um corvo local que come e dispersa as suas sementes, tais plantas são muito velozes quando se trata de colonizar os terrenos em alta quota, e neles elas consomem luz, água e nutrientes tornando muito difícil a competição para as árvores da família de Matusalém. Vence a parada a espécie que se adapta mais rapidamente. E nesse jogo os legendários pinheiro Bristlecone da Califórnia podem ser derrotados.
Adaptar-se para sobreviver
Na natureza (e também na existência humana) adaptabilidade é sinônimo de inteligência. Sobrevivem os seres que conseguem se adaptar a novas condições ambientais. As árvores são mestras em criar adaptações realmente extraordinárias. Na galeria abaixo mostramos algumas delas:
Árvore Sangue de Dragão (Socotra, Yemen). Essa planta, da família das agaváceas (Dracaena cinnabari), tem forma similar à de um guarda-chuva e é endêmica da ilha de Socotra, no Oceano Índico, um dos locais de maior biodiversidade da Terra. A sua copa achatada é uma adaptação às altas temperaturas e à escassa disponibilidade de recursos no solo. Essa conformação reduz a evaporação e protege com a sua sombra as sementes lançadas ao solo. A árvore produz uma resina de cor vermelha escura (o assim chamado “sangue de dragão”) quando os seus galhos são podados. Essa substância é usada como base para essências de perfumes e como pigmento colorante.
Árvore-garrafa (Socotra, Yemen). Na mesma ilha situada a cerca de 350 quilômetros do Iêmen, que hospeda mais de 800 variedades de plantas raras, 37% das quais podem ser encontradas em outras partes do mundo, encontra-se também a árvore-garrafa (Adenium obesum socotranum). Ela deve o seu nome à característica forma barriguda do seu tronco, que parece uma garrafa de vinho Chianti. Também neste caso a principal característica da planta – o tronco bulboso – é uma adaptação às altas temperaturas: líquidos e nutrientes são armazenados nessa base.
Eucalipto arco-íris (Havaí). A casca (córtex) do Eucalyptus deglupta, típico de algumas florestas tropicais da Austrália e do Havaí, é trocada várias vezes no decorrer do ano. Quando uma camada nova aparece, ela possui uma bela coloração verde forte; a seguir, a casca amadurece e se torna azulada, violácea, laranja e marrom, para depois se descolar e mostrar a camada que está por baixo. Essa contínua alternância produz no tronco desses eucaliptos um belo jogo de cores. Mas o conjunto só é bem vivo e brilhante quando a planta cresce no seu próprio habitat, um areal.
Árvore-aljava (Namíbia). Essa espécie de aloe (Aloe dichotoma) com folhas pontiagudas, típica da Namíbia e da África do Sul, toma o nome do costume dos bosquímanos de usar os seus ramos e as suas folhas para produzir aljavas para as flechas. A polpa dos troncos é retirada e usada para conter as armas, e também a comida. Sua madeira é porosa e mantém uma temperatura fresca em seu interior. Algumas espécies de pássaros também apreciam a forma pontiaguda das folhas, e nidificam entre esses ramos, que oferecem proteção contra predadores maiores que não conseguem atingir os ninhos.
Ciprestes dos pântanos do Caddo Lake (Texas). Os ciprestes dos pântanos, coníferas de tronco maciço, com altura superior a 2 metros, crescem nas aguas lamacentas e pobres em oxigênio de rios, pântanos e lagoas dos Estados Unidos. Elas podem ser encontradas no Caddo Lake, uma zona lacustre e pantanosa na fronteira entre o Texas e a Louisiana. Formam ali paisagens estranhas e misteriosas.
Glicínias japonesas. Entre o final de abril e o início de maio, as galerias de glicínias (gênero Wisteria) criam espetaculares cenários rosados no Japão. As glicínias não são árvores, e sim trepadeiras que crescem e se expandem num espaço que supera os 10 metros de amplitude e 20 metros de altura. As floradas colorem de rosa ou de lilás as estruturas dos túneis criados para sustentá-las.
Os baobás de Madagascar. O Adansonia rubrostipa é o menor dos baobás, embora possa atingir mais de 20 metros de altura. É uma das seis espécies de baobás existentes na ilha africana. Ela se distingue pelo tronco em forma de garrafa e as rugas da casca dos exemplares mais jovens, parecido ao couro do elefante.
O bordo-japonês (Acer palmatum). Uma das plantas que simbolizam o Japão, ela surpreende pela beleza dos seus ramos, “alérgicos” à poda, à qual reagem muito mal. Mas sobretudo pela cor vermelha acesa que, no outono, colore os jardins.
Os fícus das ruínas de Angkor Vat, no Camboja. O Tetrameles nudiflora é uma das duas espécies de plantas (a outra é o fícus-estrangulador) que crescem entre as ruínas célebres de Angkor Vat, no Camboja. Suas imponentes raízes superficiais aparecem em toda a parte nas florestas tropicais da Índia e do Sudeste asiático, contribuindo para o seu fascínio antigo.