Apenas cerca de 350 mil elefantes ainda restam nas savanas africanas. 144 mil exemplares foram dizimados entre 2007 e 2014 com o único objetivo de arrancar-lhes as presas de marfim. Providências locais e internacionais são necessárias para salvar a espécie da extinção
Por: Equipe Oásis
Há anos os ambientalistas denunciam a progressiva diminuição do número de elefantes africanos por causa, sobretudo, da caça ilegal. Mas à parte investigações locais e portanto não completas, não existia um censo geral da espécie no território africano. Agora, graças a um importante grupo de cientistas, o financiamento de Paul Allen – co-fundador da Microsoft – e, entre outros, a associação Elephants Without Borders, temos as cifras precisas.
Os elefantes de savana contados são apenas 352.271, presentes em 18 países, e representam 93% da população total de elefantes. Os números estão em rapidíssima diminuição. O artigo contendo essas estatísticas acaba de ser publicado na revista online Peerj ( https://peerj.com/articles/2354/ ).
Senhores da ecologia
Os elefantes africanos de savana (Loxodonta africana, distintos de uma outra espécie de elefantes, de tamanho menor e que habita as florestas, Loxodonta cyclotis) são um componente fundamental dos ecossistemas africanos ao sul do Saara. Eles habitam essencialmente a savana africana, as zonas abertas e inclusive os desertos (como a Namíbia) e possuem uma estrutura social e uma vida muito complexa, da qual as pesquisas estão longe de ter chegado ao fim.
Formam aquilo que em ecologia se define como uma “espécie chave”, fundamental para a conservação dos ecossistemas, além de serem muito importantes do ponto de vista social e econômico. A começar pelo fato de que são um dos principais atrativos turísticos no continente negro.
Os elefantes são, no entanto, há séculos, uma fonte de abastecimento de marfim, utilizado para os teclados de piano, as bolas de bilhar, e inclusive para palitos usados na gastronomia oriental, crucifixos e terços de oração católicos (como nas Filipinas) e vários suvenires turísticos quase sempre de péssimo gosto. Por isso, apesar da proibição quase absoluta de caça, os caçadores furtivos, pagos por comerciantes e intermediários europeus e asiáticos, não param de matá-los unicamente para extrair dos seus corpos os dentes que serão vendidos. A caça ilegal e a perda do seu habitat são as causas da diminuição acelerada da espécie. Até há pouco não existia um número seguro dos elefantes sobreviventes.
Contagem aérea
O projeto Great Elephant Census, envolveu estudiosos de muitos países africanos e ocidentais, teve início em 2014 com o objetivo de definir com maior precisão quantos fossem os animais que ainda habitavam a África (veja imagens ao lado). A contagem foi efetuada com voos aéreos aerei e com helicópteros, já que executar essa tarefa em terra seria uma tarefa muito longa, perigosa e cara.
Junto aos animais vivos, foram contadas muitas carcaças, que testemunhavam o estado da população e a porcentagem de animais mortos pelos caçadores. As contagens serviram também para estabelecer um confronto com números auferidos no passado, e desse modo delinear uma tendência da população geral da espécie.
Queda vertical
Os números traçaram uma situação preocupante, com um desaparecimento de cerca 144 mil indivíduos entre os anos de 2007 a 2014, e uma diminuição de 8% ao ano em todo o continente. A maior parte das mortes é devida à caça ilegal por causa do marfim, alimentada pela demanda dos países do Sudeste asiático, em particular a China, Tailândia e Vietnã. Os países de onde provém a maior parte do marfim são Moçambique e Tanzânia.
Depois de um crescimento populacional na metade dos anos Noventa, a tendência à diminuição do número de elefantes aumentou até chegar a um verdadeiro pico nos dois últimos anos. O atual estudo ressalta a importância teórica (mas não prática) das áreas protegidas para a salvaguarda da espécie, e junto a ela também a de muitas outras espécies animais e plantas e até de inteiros ecossistemas. Em muitos parques nacionais ou outras áreas, com efeito, a relação entre animais vivos e carcaças chega perto daquela que encontramos nas zonas não protegidas e isso indica uma altíssima atividade de caça ilegal inclusive no interior das áreas protegidas.
Avidez ocidental
Os esforços de proteção das espécies são obstaculizados pela disposição de alguns países do sul da África (notadamente a Namíbia e o Zimbábue) para facilitar o comércio do marfim. A questão será discutida no próximo convênio da Cites, o organismo que regulamenta o comércio de partes de animais em via de extinção.
Os dois países citados (junto a alguns países europeus e asiáticos nos quais o mercado do marfim é ainda presente) desejam restrições ainda menores ao comércio do marfim de elefantes, mas isso, segundo os especialistas, levaria a um aumento exponencial da caça ilegal. Com o perigo do desaparecimento total do gigante africano.