O célebre astrofísico britânico prevê um futuro no qual as máquinas poderão desenvolver a autoconsciência e sobrepujar a espécie humana. Segundo o cientista, a vida biológica se desenvolve a um ritmo mais lento do que a tecnologia.
Por: Equipe Oásis
As máquinas, cedo ou tarde, levarão à extinção da espécie humana. Quem desenha esse cenário de ficção científica é o astrofísico Stephen Hawking, Em entrevista à BBC de Londres ele explicou como a evolução da tecnologia está acontecendo num ritmo muito mais veloz do que o do desenvolvimento da vida biológica. “Os primeiros experimentos de inteligência artificial estão dando resultados brilhantes: logo as máquinas poderão desenvolver a autoconsciência e sobrepujar o ser humano”, explicou o cientista.
O astrofísico fala de algo que ele conhece muito bem, já que sua vida e a sua relação com o mundo dependem em 100% das máquinas e da eletrônica. Acometido aos 21 anos de idade pela esclerose lateral amiotrófica, Hawking hoje está quase completamente paralisado e não consegue falar: ele se comunica, escreve e ensina unicamente graças à alta tecnologia.
Em 2007, quando já tinha completado 65 anos de vida, Stephen Hawking experimentou durante alguns segundos a ausência de peso em voo parabólico (tradução: a microgravidade é estimulado através da queda livre do avião) graças à empresa Zero Gravity Corporation. O seu maior sonho permanece obviamente o de viajar no espaço. Nesse sentido, o magnata Richard Branson, fundador da Virgin Galactic, há tempos lhe ofereceu uma viagem gratuita a bordo de uma das suas astronaves.
Viver com um único músculo
O novo sistema informático utilizado por Hawking e realizado pela empresa Intel utiliza um sofisticado algoritmo preditivo que permite ao cientista falar, escrever, gerir o próprio correio eletrônico utilizando um único músculo da bochecha. O último upgrade colocado à disposição do astrofísico lhe possibilita ser duas vezes mais veloz com relação ao ritmo anterior para cumprir essas operações e, portanto, de comunicar de maneira mais eficaz.
O sistema lança mão de um sensor infravermelho montado em seus óculos capaz de ler os movimentos desse músculo da face. Controlando esse sensor Hawking compõe as palavras letra por letra, mas com as novas adaptações ele pode reduzir entre 15 e 20% o uso dos caracteres que compõem um documento: todos os outros são “adivinhados” pelo software. Quando Hawking quer falar, um sintetizador vocal lê as palavras compostos através deste sistema. Recentemente Hawking preferiu manter a voz atual do seu sintetizador, um pouco metálica e robótica, desistindo de substitui-la por uma voz mais moderna e natural.
Cientista de renome mundial, Hawking é um dos pioneiros na utilização desse gênero de equipamentos. Mas no mundo existem cerca de 3 milhões de pessoas que poderão ter melhorias significativas utilizando esse sistema ou outros análogos. Por esta razão Intel decidiu liberá-lo com licença open source. O sistema é totalmente modular e pode ser controlado com o toque, os movimentos dos olhos e outros gestos mínimos: poderá portanto ser adaptado às exigências especificas de todos os pacientes.
Para o astrofísico britânico vivemos em um século muito perigoso, no qual o progresso tecnológico corre o risco de escapar ao nosso controle, e ainda não desenvolvemos colônias espaciais nas quais nos refugiarmos. O segredo para resistirmos a essa nuvem de tempestade que paira sobre nossas cabeças? A paixão pelo próprio trabalho, e o senso de humor.
Ciência, futuro, sobrevivência da espécie
A espécie humana enfrenta um dos séculos mais perigosos de toda a sua história, ameaçada pelas inovações científicas e tecnológicas que ela mesma criou. Quem afirma isso é ninguém menos que Stephen Hawking. Em entrevista concedida à BBC de Londres, no contexto da programação Reith Lecture (veja no final da matéria) e antes da sua palestra sobre buracos negros, o físico inglês voltou a falar de como ele vê o futuro da ciência. “Os progressos na área da ciência e da tecnologia não irão parar, e não voltaremos atrás. Mas temos de aprender a reconhecer os perigos e a controlá-los”, ele disse.
Estrada de mão dupla. A maior parte das ameaças à nossa sobrevivência, explica o cientista que acaba de completar 74 anos, vêm de derivações incontroláveis do avanço da pesquisa e da tecnologia, como os vírus geneticamente modificados, as armas nucleares e a inteligência artificial.
Em direção a outros planetas. As probabilidades de uma ameaça realmente séria à humanidade serão muito mais concretas dentro de mil a 10 mil anos, mas antes que o homem consiga estabelecer colônias espaciais autônomas e autossustentáveis pelo menos uma centena de anos terá passado. O momento mais delicado da nossa existência como espécie é, portanto, exatamente agora, porque nos encontramos vulneráveis e destituídos de qualquer saída de segurança.
Humor britânico. Perguntado sobre a sua longa doença, Hawking revelou o segredo da sua notável resiliência e longevidade: a paixão pelo seu trabalho, para o qual o fato de ele ser um handicapado grave não constituiu um obstáculo, e um profundo senso de humor. “O importante é não sucumbir à raiva. Não importa o quanto seja difícil a vida, se você não aprende a rir das coisas pode perder toda e qualquer esperança quanto à existência e quanto a você mesmo. Apenas porque passo muito tempo pensando – completou – não significa que não gosto de festas, ou de me meter em encrencas.”
Newton e Galileu. Embora tenha ocupado durante 30 anos a cátedra de matemática na Universidade de Cambridge – posto que pertenceu a Isaac Newton –, Hawking disse que se sente mais perto de Galileu Galilei, o físico, matemático e astrônomo italiano que, com suas teorias, pôs em cheque os paradigmas científicos da sua época. Hawking declarou que, se pudesse voltar no tempo, Galileu é a personalidade que ele, mais que todas as outras, gostaria de encontrar.
Uma viagem só de ida. A propósito de viagens no tempo, Stephen Hawking se aprofundou ao falar de buracos negros. Seria teoricamente possível, ele explicou, cair num buraco negro em um universo paralelo. Mas deveria se tratar de um buraco negro rotante e muito grande, e a viagem de volta não seria uma opção possível.
BBC Reith Lecture. As Reith Lectures são uma série de lições organizadas pela BBC inglesa e transmitidas pela Rádio 4 BBC e a BBC World Service. Tomam o nome de Sir John Reith, o primeiro diretor geral da BBC, e iniciaram em 1948 com as lições do filósofo e prêmio Nobel Bertrand Russell a respeito da autoridade e o indivíduo.
Em 2016 as Lectures foram confiadas a Stephen Hawking que já gravou as suas intervenções. Serão transmitidas em duas partes:
– dia 26 de janeiro, às 7 horas da manhã (hora brasileira), a lição “Os buracos negros são carecas?”
– dia 2 de fevereiro, às 7 horas da manhã (hora brasileira) a lição “Os buracos negros não são assim tão negros como se acreditava”.
Em direção a um outro universo
A hipótese de que os buracos negros são portas dimensionais, e que seria possível se passar de um universo a outro através delas, foi mais uma vez colocada por Stephen Hawking, quando ele afirmou que aquilo que entra nos buracos negros pode inclusive se salvar e não desaparecer completamente.
Um imenso e poderoso buraco negro atua no centro na região denominada Cygnus X-1, na Via Láctea (Ilustração digitalizada). Os buracos negros estão presentes no coração de quase todas as galáxias do universo. Eles poderiam ser a porta de entrada para se chegar a outros universos. Assim afirma a hipótese de Stephen Hawking. Caltec/NASA
Os buracos negros são, ainda hoje, um dos grandes mistérios do nosso universo. Embora eles tenham entrado no imaginário comum como grandes banheiras que engolem tudo aquilo que passa nas cercanias, eles ainda reservam muitos enigmas que deverão ser explicados pelos astrofísicos.
Uma das perguntas mais frequentes à espera de resposta é aquela que diz respeito àquilo que acontece a quem entra num buraco negro. Segundo a Teoria da Relatividade Geral, tudo aquilo que se precipita no seu interior seria inexoravelmente destruído. Mas essa hipótese se choca com aquilo que sustenta a mecânica quântica, segundo a qual, simplificando o seu enunciado ao máximo, isso não é possível.
A solução do enigma teria sido encontrada por Stephen Hawking, o célebre astrofísico e exposta a luminares da ciência durante uma palestra que aconteceu no Kth Royal Institute of Technology de Estocolmo (veja vídeo no final da matéria). Hawking sustenta que aquilo que é sugado por um buraco negro permanece aprisionado ao longo do “horizonte dos eventos”, aquela esfera que circunda um buraco negro e que o delimita do resto do universo e ali permanece na forma de uma espécie de “holograma”.
Stephen Hawking no Kth Royal Institute of Technology de Estocolmo.
A saída, onde está a saída? Assim aprisionada, a matéria e a energia podem, depois, retornar ao nosso universo na forma de radiações de Hawking, ou seja, sob a forma de “radiações quânticas” ou acabarem em um outro universo.
Infelizmente, porém, não se deve esperar que se possa retornar de uma viagem a um buraco negro tal e qual éramos quando entramos nele. Explica Hawking: “A informação das partículas entrantes é restituída, porém de forma caótica e não mais utilizável. Da mesma forma, a informação se perde para qualquer uso prático”.
O filme de ficção científica Interstellar é baseado na hipótese da possibilidade de sobreviver a uma viagem através de um buraco negro. Hoje, Stephen Hawking a sustenta como hipótese científica formal. Os buracos negros, portanto, não seriam imensos bueiros cósmicos sem possibilidade de retorno. O retorno seria possível, mas provavelmente não na forma que se tinha ao entrar. Hawking completou, em tom de piada: “Assim sendo, se você na vida se sentir como dentro de um buraco negro, não desista. Existe sempre uma saída”.