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O sorriso do médico. Ele influi na saúde do paciente

A interação humana efetiva entre o médico e o paciente durante as visitas a domicílio ou no consultório é fundamental para o diagnóstico e o tratamento. Ao cortar a palavra do paciente que está relatando seus sintomas ou ao manter os olhos fixados na tela do computador, o médico reduz a eficiência de sua consulta.

Por Delphine Chayet 

Fonte: Saúde 247 – Le Figaro Santé

Olhar o paciente nos olhos, lhe dar tempo de descrever seus sintomas sem interrompê-lo ou fazer perguntas abertas, não são apenas marcas de uma simples atenção, mas uma verdadeira competência clínica. Segundo um estudo publicado na revista científica PLOS ONE, a qualidade da relação entre o médico e seu paciente influi diretamente nos resultados da consulta.  “Iniciativas visando melhorias na comunicação têm um efeito mensurável sobre certos marcadores do estado de saúde, como a pressão arterial, a perda de peso ou a escala de pontuação da dor” indica o Dr. John Kelly, pesquisador na Universidade de Harvard em Massachussets.

Com sua equipe, este especialista em psicologia médica passou em revista treze estudos científicos que medem de forma concreta o benefício terapêutico de uma melhor relação médico-paciente. Os critérios subjetivos como a satisfação do paciente ou a sua aceitação da prescrição médica, foram ignorados. A análise mostra que os esforços concentrados na comunicação têm um impacto “baixo, mas estatisticamente significativo” que pode ser comparado, segundo os pesquisadores à ingestão de aspirina para reduzir o risco de infarto do miocárdio ou as consequências da abstinência do tabaco sobre o índice de mortalidade masculina após oito anos.

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“Doutor, há uma campainha constante tocando em meu ouvido. Quando tento ignorá-la ela deixa um recado”. 

Interrompido após 18 segundos

“Como há milhões de consultas médicas, um efeito limitado a nível individual é muito interessante do ponto de vista da saúde pública”, revela o Dr Jacques Puichaud, psiquiatra e presidente de uma associação de formação contínua em técnicas de relacionamento. No Canadá, este ensinamento é obrigatório desde a faculdade de medicina. Ele é feito através de jogos de encenação durante os quais os futuros médicos desenvolvem seu senso de empatia e de escuta. Aprende-se especialmente a deixar o paciente falar, se posicionar fisicamente na frente dele, interpretar os sinais não verbais de ansiedade ou ainda lidar com suas emoções.

Competências parcialmente inatas, mas que se revelam pouco utilizadas na prática diária. Um paciente, que descreve seus sintomas, seria, por exemplo, interrompido após dezoito segundos em média, segundo um estudo canadense. No começo do ano, outra pesquisa revelou que um médico passa um terço da consulta com os olhos grudados na tela do seu computador. Finalmente, foi demonstrado que médico e paciente, muitas vezes, têm dificuldade para chegar a um acordo sobre a natureza do problema.

O paciente, um ator de pleno direito

O Dr Puichaud resume o objetivo das técnicas relacionais da seguinte forma: “Alcançar um entendimento comum do problema e tomar decisões médicas, fazendo do paciente um ator de pleno direito na consulta”.

Médico rural na Charente-Maritime, o Dr Jacques Auger aplica esta receita há vinte e cinco anos. A sua prática se transformou: “Logo após eu ter-me instalado, descobri que muitos dos meus pacientes não levavam em consideração as minhas prescrições dietéticas ou não tomavam os remédios” diz ele. Na realidade, ser bem intencionado e amável não é o suficiente; é preciso que a mensagem médica seja aceita”.

O Clínico Geral tomou por hábito verificar a receita do seu paciente, repetindo-a junto com ele, mas sem traduzir suas frases no jargão médico. Ele aprendeu também a levar em consideração as convicções do paciente com quem está lidando, assim como o seu estilo de vida, a sua vontade e a sua capacidade em mudar seus hábitos alimentares ou esportivos. “De forma geral, os médicos jovens tendem a dar informações demais”, revela a Dra. Chloé Delacour, médica liberal e docente na faculdade de medicina de Estrasburgo. “É ineficiente, por exemplo, sufocar o diabético com conselhos nutricionais”.

“Doutor, a vida é dura”

 Consultas mais eficientes

Enquanto as doenças crônicas constituem uma parte cada vez mais importante da atividade médica e que uma consulta dura dezesseis minutos em média, se assegurar da cooperação do paciente permite que o médico seja mais eficiente. Ele se beneficia de um grande conforto no trabalho, segundo a Dra. Auger, “porque ele se sente menos exposto a fracassos e consultas repetitivas”.

A abordagem é uma fonte de satisfação para o paciente. Porém a melhoria da comunicação também é benéfica para a coletividade. A Autoridade Superior de Saúde estima que as ferramentas de ajuda à tomadas de decisão, fornecidas ao paciente para aumentar sua implicação podem contribuir para “melhorar a qualidade e a segurança dos cuidados”. Pesquisadores holandeses, demonstraram que um treinamento em comunicação pode ter um efeito sobre a prescrição de medicamentos. Com pessoas sofrendo de bronquite, os médicos participantes deste estudo deveriam explorar os medos dos seus pacientes, pedindo sua opinião sobre antibióticos ou ainda destacar o prazo normal de uma infecção respiratória. Graças a esta simples intervenção, as prescrições de antibióticos passaram de 54 a 27%.

O anúncio de um câncer, um momento delicado

O anúncio de uma doença grave é um momento muito delicado. Desde o primeiro plano de luta contra o câncer, uma consulta é dedicada a explicar o diagnóstico e os tratamentos nos hospitais. ”O médico deve ao seu paciente, uma informação honesta, clara, adequada e comunicada com empatia”, lembra o Dr. Jean-Marie Faroudia, membro do Conselho da Ordem. Segundo o Inca, o paciente deve poder se beneficiar sobre o que ouvir , ter suporte, informações adequadas e personalizadas. Alguns CHU (Centros Hospitalares Universitários) oferecem jogos com encenações aos seus cuidadores, para poder treiná-los no anúncio de um câncer.