Depressão. Ela não é uma simples melancolia

Por: Aurélie Franc – Le Figaro Santé

Fonte: Site Saúde 247

Um dia de “fossa” emocional e afetiva pode acontecer na vida de todas as pessoas. Mas às vezes a escuridão depressiva se instala e não vai mais embora. Como saber se se trata simplesmente de um estado passageiro de tristeza ou de uma depressão verdadeira? O psiquiatra francês Olivier Doumy, do centro de especialização em depressões resistentes da Fundação FondaMental, explica algumas das características da depressão.

O que é uma depressão?

A depressão é uma patologia psiquiátrica que responde a critérios bem precisos presentes no DSM-5 (manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais da Associação Americana de Psiquiatria). Novo critérios permitem diagnosticar a doença. Os principais são: uma tristeza permanente e uma anedonia (*) (uma redução da sensação de prazer). Em seguida, surgem outros sintomas: variação do peso, as insônias ou as hipersônias (sono excessivo), a diminuição do tônus psicomotor, a fadiga, o sentimento de desvalorização, a diminuição da capacidade de concentração e as ideias suicidas. Em outras palavras, a depressão não é um simples estado de tristeza, de melancolia ou de diminuição do bom humor, mas trata-se de uma tristeza patológica, permanente, que não é mais influenciada por alguma situação externa.

Qual a diferença entre uma depressão e um estado de melancolia?

A depressão e a melancolia passageira não constituem a mesma coisa do ponto de vista médico. Em certos contextos específicos, é perfeitamente natural o afloramento de emoções negativas ou de uma tristeza profunda. Isso é normal e faz parte da vida emocional de todas as pessoas. Em geral, esses estados emocionais se dissipam e desaparecem depois de um certo tempo. Diferentemente, usamos o termo depressão para nos referirmos a estados de tristeza profunda que persistem, embora muito tempo tenha passado e o problema que aparentemente lhe deu origem já tenha sido resolvido.

Quantas pessoas sofrem de depressão?

Cerca de 14% dos franceses manifestarão uma depressão no decorrer de suas vidas. Esse número não é muito diferente na maioria dos países ocidentais, tanto os europeus quanto os americanos. Todos os indivíduos estão sujeitos, em algum momento, a manifestar uma depressão, até mesmo as pessoas que são consideradas pelos seus amigos e familiares como equilibradas e “fortes”. Não existe um perfil típico de pessoa sujeita a manifestar a moléstia. Mas existem fatores de risco tais como os distúrbios de ansiedade, os psicotraumatismos, a adição a drogas e ao álcool, os estados e as situações repetitivas de estresse.

Só o psiquiatra está habilitado para diagnosticar corretamente uma depressão, e isso acontece após um mais encontros com o paciente, durante os quais o profissional geralmente faz uso de um questionário especialmente elaborado. Após o diagnóstico, a doença é tratada com uma psicoterapia, muitas vezes acompanhada de medicamentos. Mais a depressão é severa, mais os medicamentos são indispensáveis.

(*) ANEDONIA. A PERDA DA CAPACIDADE DE SENTIR PRAZER

Fonte: Site http://www.fasdapsicanalise.com.br/

Anedonia é a perda da capacidade de sentir qualquer tipo de prazer por todo o tempo. A anedonia é o atributo maior das grandes depressões, mas pode acontecer também nos esquizofrênicos, neurastênicos, nos usuários crônicos de drogas (sobretudo durante as crises de abstinência), em pessoas muito ansiosas e naquelas com transtornos esquizoides de personalidade. Parece haver tipos constitucionais com certos graus de anedonia. No sentido bioquímico, a anedonia está associada a baixos níveis de monoaminas (serotonina, dopamina, adrenalina e noradrenalina) no sistema nervoso.

Quais são os principais sinais e sintomas da anedonia?

Os pacientes com anedonia ficam normalmente numa situação de total indiferença consigo mesmos, não têm apego por nada, nem mesmo pela própria vida e costumam ser resistentes a mudar a sua situação, nada fazendo para isso, mesmo diante da insistência de pessoas próximas.

Correlativamente, há uma dificuldade ou incapacidade de experimentar sentimentos negativos. Essas pessoas parecem não ser capazes de dar respostas emocionais aos estímulos que recebem. Em casos extremos, tanto faz que lhe morra um parente próximo ou que ganhe um grande prêmio numa loteria.

Contudo, há uma gradação de intensidade dos casos de anedonia que decresce dessas situações extremas até outras, mais leves. Por outro lado, embora as pessoas sejam incapazes de sentir prazer em qualquer circunstância, há casos em que o problema se dá com aspectos específicos da vida, como o apetite, o sexo, as relações sociais, as atividades de lazer, etc.

Os pacientes com anedonia têm dificuldades em suas relações sociais, tornando-se desinteressantes, afastando de si as demais pessoas e vivendo em isolamento.

Como o médico diagnostica a anedonia?

O médico diagnosticará a anedonia clinicamente a partir do relato das pessoas próximas ao paciente e de suas próprias observações da falta de reações emocionais do paciente. Não há nenhum exame objetivo que seja capaz de diagnosticar a anedonia.

Como o médico trata a anedonia?

O tratamento da anedonia dependerá do quadro mórbido em que ela esteja inserida. Se ela for, por exemplo, um sintoma da depressão, o tratamento farmacológico deve ser feito com antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de dopaminas. Se aparecer em outros quadros patológicos deve seguir também o tratamento deles, principalmente com medicações desinibidoras e ativadoras.

No sentido psicológico, as terapias cognitivo-comportamental ou analítico-comportamental podem ser de grande auxílio ao tratamento medicamentoso.

Como evolui a anedonia?

Um dos problemas do tratamento da anedonia é que esses pacientes dificilmente aderem voluntariamente ao processo terapêutico e pelo menos as tentativas iniciais quase sempre partem mais dos familiares que do próprio paciente.

A anedonia relacionada a quadros mórbidos bem definidos e curáveis tende a desaparecer na medida em que esses quadros também desaparecem. Aqueles casos constitucionais ou devidos a transtornos de personalidade são de mais difícil solução e até mesmo insolúveis.

Quais são as complicações possíveis da anedonia?

A pessoa que sofre de anedonia parece estar emocionalmente “congelada” e se torna socialmente desagradável, o que acaba prejudicando muito suas relações sociais e levando-a a um quadro de isolamento, do qual, contudo, ela não se ressente. 

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