O colapso das religiões organizadas – que alguns gostam de chamar de “a morte de Deus” – é ponto-chave para se entender a crise do mundo moderno. Essa falência da maioria dos sistemas religiosos institucionalizados provocou uma grande e generalizada fome de alimento espiritual. Em busca dessa nutrição fundamental, muitas pessoas recorrem a auto-denominados “mestres” e “gurus”. Eles são em grande número, e os métodos de realização espiritual que oferecem são os mais diversos. Mas como saber se tais instrutores são verdadeiros ou falsos? Se aquilo que oferecem é ensinamento real ou amontoados de mentiras e de ilusões? No garimpo de gurus, encontrar uma pepita de ouro pode ser bem difícil; o cansaço da busca, as decepções, bem mais frequentes e fáceis de encontrar. Há, no entanto, uma faculdade da psique humana que pode nos ajudar a separar o joio do trigo: o discernimento.
Por Luis Pellegrini
Garimpo de gurus. Há anos, uma leitora enviou-me a carta que transcrevo abaixo. Carta exemplar. Muitos poderiam assiná-la:
“Passei pelo menos metade da minha vida em busca de um mestre verdadeiro. Um guru, capaz de me conduzir no caminho do autoconhecimento e da expansão da consciência espiritual. Encontrei vários homens e mulheres que, de modo explícito ou implícito, apresentavam a si mesmos como mestres. Dei-lhes um voto de confiança, entreguei-lhes as rédeas da minha vida espiritual. Como resultado, ganhei experiência e algum conhecimento, disso não há dúvidas. Mas obtive também muito sofrimento e amargas decepções.
Todos esses alegados mestres que encontrei pareciam, no início, comportar-se realmente como tais. Mostravam-se gentis, acolhedores, sábios e compreensivos, e dispostos a percorrer, lado a lado com os discípulos, as misteriosas trilhas espirituais de cada um. Pouco a pouco, no entanto, fui descobrindo em cada um deles o reverso dessa medalha. Alguns, que demonstravam ser gênios de inteligência, revelaram-se depois verdadeiros monstros em matéria de desequilíbrio afetivo e emocional. Outros, capazes de cativar e seduzir pelo carinho e turnura com que envolviam os alunos, fracassavam completamente na parte teórica e intelectual de suas propostas. Sem falar nos gurus ingênuos que encontrei, nos auto-iludidos, e nos espertalhões. Estes últimos, muitas vezes verdadeiros mestres nas artes da sedução afetiva e intelectual do aluno, pouco a pouco demonstravam serem depravados nas suas verdadeiras intenções, as quais escondiam com freqüência puro desejo de afirmação do próprio ego, pura vontade de ganhar dinheiro, status social, poder ou sexo.
Desisti de procurar gurus. Como se costuma dizer, melhor só do que mal acompanhado. A solidão espiritual não é cômoda, não é fácil e nem agradável. Mas, pelo menos, ela é uma companheira confiável. Jamais ouvi dizer que alguém foi traído pela solidão. Quem sabe não será ela a verdadeira mestra? Dizem que quando o discípulo está pronto, o mestre aparece. Se isso for verdade, e se for verdade que estou pronta, a solidão é a mestra que a vida finalmente me deu”. Assinada: Mariana, de Brasília, leitora assídua.
Mariana: ao final do seu texto tão sincero e verdadeiro, junto à sua assinatura, eu também poderia firmar a minha. E, certamente, junto às nossas, centenas de milhares de outras assinaturas apareceriam. Nomes de pessoas que, como nós, provaram da comida oferecida por certos “gurus” e a acharam bastante indigesta, quando não mortalmente venenosa.
Suas colocações trazem à tona um problema crucial dos tempos modernos: a questão dos gurus, palavra que em sânscrito significa mestre ou instrutor espiritual. O jornalista e escritor inglês Colin Wilson, na introdução que escreveu para o livro Não chame ninguém de mestre, de Joyce Collin-Smith, afirma que “o século 20 produziu mais gurus, sábios e messias do que os cinco séculos anteriores reunidos. A razão é bastante simples: o colapso da religião organizada deixou em sua trilha a fome de certezas morais, o anseio por conhecimentos ocultos”. Colin Wilson tem razão. A crise do mundo moderno, provocada pela saturação da mentalidade materialista, criou, por mecanismo de compensação, uma grande fome espiritual. Aumentou a demanda por caminhos espirituais, aumentou a oferta de opções religiosas e de “especialistas” em cada uma delas. Como resultado, há hoje um “mestre espiritual” em cada esquina, e a impressão que se tem é de que as cidades viraram supermercados de gurus: vá lá e agarre o seu. É lei de mercado: quando as coisas ficam assim baratas, é porque há excesso de oferta e, quando há excesso de oferta, a qualidade fatalmente cai. Diante dessa situação, o primeiro passo é procurar saber com clareza o que é, afinal, um mestre espiritual.
O que é um mestre espiritual? Utiliza-se a palavra para se designar alguém que alcançou um certo grau de perfeição evolutiva ou um grande domínio das leis e princípios que regem tanto o mundo material quanto o mundo espiritual.
A condição de mestre é a de alguém que aprendeu a despertar e a aplicar os poderes latentes da natureza humana, e que dirige sua vida de acordo e em harmonia com as leis da evolução cósmica.
Todas as tradições espirituais, tanto as de linha esotérica quanto as de linha mística, afirmam que esses mestres existem, que sua existência é necessária, que todos nós precisamos em algum momento de um mestre, e que somos, todos, mestres em potencial. As escolas e os métodos de desenvolvimento espiritual existem exatamente para isso: para conduzir paulatinamente seus alunos à condição de mestres.
Afirma-se também que existem mestres visíveis e mestres invisíveis. Os primeiros são aqueles que alcançaram um elevado grau de perfeição, mas que ainda vivem encarnados no plano da terra. Os invisíveis são aqueles que teriam chegado, ao longo de sua evolução, ao ponto em que já não lhes é necessário reencarnar em um novo corpo físico. Esses mestres invisíveis residem numa dimensão supraterrena e, a partir daí, ocupam-se dos assuntos humanos projetando a sua influência no plano psíquico dos indivíduos e das sociedades. Podemos perceber a influência desses mestres, seus pensamentos e mensagens, quando nos harmonizamos com nosso próprio plano psíquico. A experiência dos sonhos e da meditação são considerados métodos adequados para promover a sintonização com essas fontes superiores de influência.
Mas é importante ressaltar desde já que ser mestre não significa, necessariamente, ser perfeito. No caso dos encarnados, pelo simples fato de habitarem um corpo material e um mundo material, e serem inevitavelmente influenciados pelos limites desse corpo e desse mundo, tais mestres são seres limitados, possuidores de uma consciência relativa, e não podem ser perfeitos. Da mesma forma, os mestres invisíveis ou cósmicos não são deuses, e sim entidades inteligentes que alguma vez foram mortais. Por mais sábias e avançadas que sejam, ainda assim estão sujeitas a falhas e erros no seu caminho de evolucão.
Existe ainda, segundo todas as grandes tradições, um outro tipo de mestre: o nosso mestre interno, que está sempre a nosso lado, junto a nós, em nosso interior, embora quase sempre não nos damos conta disso. É a este mestre interno que, na verdade, se refere aquele antigo provérbio hermético: quando o discípulo está pronto, o mestre aparece. Este mestre é parte da Inteligência Divina que carregamos no mais íntimo do nosso ser. “Estar pronto”, portanto, significa simplesmente ter aberto e fortalecido os canais de diálogo com nosso mestre interno.
Se possuímos um mestre interno capaz de nos trazer todas as respostas de que necessitamos, porque precisamos de mestres externos, visíveis ou invisíveis? Simplesmente porque, da mesma forma que uma criança precisa de uma parteira para nascer, nós precisamos de um professor que nos oriente e instrua no aprendizado do diálogo com nosso mestre interno. Tudo o que um mestre externo pode fazer limita-se a isso: ser parteiro do nosso nascimento para esse diálogo. Mas todo o esforço e toda a responsabilidade que esse nascimento requer deverão ser nossos. Nem o melhor e mais poderoso dos mestres externos poderá nascer por nós, e em nosso lugar.
Mestres externos são, portanto, convenientes e muitas vezes necessários. Da mesma forma que, na idade escolar, precisamos de professores. Todos nós, que sentimos dentro o pulsar da vida espiritual, mais cedo ou mais tarde nos deparamos com a necessidade de encontrar quem nos ajude a organizar e desenvolver esse aspecto da nossa existência. E aí, freqüentemente, nos desnorteamos diante de uma situação cheia de riscos e perigos: o supermercado de gurus em oferta.
A sabedoria sufi (de sufismo, escola mística e esotérica que floresceu principalmente em países islâmicos) costuma ensinar que os verdadeiros mestres não colocam letreiros ou anúncios nas próprias portas. Não oferecem a si mesmos como mercadoria de consumo. Em nenhum momento se apresentam como mestres ou sequer como seres diferenciados. Não autorizam ninguém a falar deles como tais. Toca ao discípulo, ou candidato a discípulo, reconhecer neles as qualidades e atributos que os diferenciam do comum dos homens. Reconhecer em alguém a qualidade de mestre é, portanto, uma percepção que acontece de dentro para fora, e não de fora para dentro. Quando essa percepção acontece, ela não precisa sequer ser explicitada. É conveniente inclusive que ela cresça calada e secreta no coração do discípulo, e que alí se acumule como um grande reservatório de energia. O verdadeiro mestre saberá perfeitamente quando foi reconhecido pelo aluno e, para ele, um simples olhar carregado de intenção, um gesto breve quase imperceptível aos demais, um sorriso leve, tranqüilo e amoroso, dirá muito mais do que mil palavras e juramentos, prostrações, beija-mãos e quaisquer outras demonstrações de encantamento e submissão.
Mestres verdadeiros são poucos. No supermercado de gurus, a maioria é composta de charlatães. Há dois tipos principais de charlatães: os conscientes e os inconscientes. Os primeiros são menos perigosos. O que querem é obter algum tipo de gratificação pessoal. Essa gratificação pode ser de tipo material, como obter dinheiro e outros bens; de tipo afetivo/emocional, desde simplesmente conquistar afeto e admiração até a sedução sexual dos alunos; e pode aparecer também como ambição de poder político ou de qualquer outra forma de poder ditado pela vaidade e pelo narcisismo. Mas, como trata-se aqui de charlatães conscientes da própria charlatanice, eles procuram nunca ultrapassar certos limites de segurança. Sabem que a manutenção dos esquemas de vantagens e benesses proporcionados pelos seus devotos depende da preservação desses limites. Se um aluno, por exemplo, lhe fizer uma pergunta cuja resposta desconhece, esse charlatão nunca dirá, honestamente, que não sabe. Dirá, provavelmente, que o aluno ainda não está suficiente maduro e preparado para receber a resposta. Mas a verdade é que ninguém consegue formular com coerência uma pergunta se não estiver, de algum modo, capacitado para receber a resposta. Formular boas perguntas é mais difícil do que entender boas respostas. O grande prejuízo que o charlatão consciente acarreta para o aluno é, antes de tudo, perda de tempo, de energia, e freqüentemente de dinheiro. Além do prejuízo de poluir a mente do aluno com informações em geral fragmentárias e aleatórias que, por não estarem vinculadas a um sistema autêntico de conhecimento, simplesmente poluem a mente e a nada levam. O domínio teórico e prático de um sistema autêntico de conhecimento é privilégio dos mestres verdadeiros.
O segundo tipo, o dos charlatães inconscientes, pode ser extremamente perigoso. Essas são pessoas que acreditam, às vezes com total convicção, possuir poderes e qualidades especiais, estar em contato direto com potestades de outros planos dimensionais (anjos, arcanjos, deuses, mestres ascencionados, tripulantes de discos voadores, etc.) e, o que é pior, acreditam estar destinados a desempenhar na terra alguma missão redentora ou de salvação. Típicos dessa categoria são os “gurus apocalípticos”, aqueles que pregam a iminência do fim do mundo e a possibilidade de “salvação” através da interferência de forças superiores, como a de seres extraterrenos que, na “hora H”, baixariam sobre a terra com suas naves interplanetárias para resgatar da hecatombe aqueles poucos que foram “preparados” para serem salvos. E quem é o encarregado dessa preparação? Quem é o intermediário entre nós, pobres coitados filhos do apocalipse, e os extraterrenos salvadores? Claro, não pode ser outro além dele mesmo, o “guru”!
Livio Vinardi, o físico argentino que criou a disciplina chamada biopsicoenergética, costuma referir-se a esse tipo de gurus como “hipermisticóides”, e a seus seguidores de “misticóides”. Vinardi explica que a relação de energia psíquica que se forma entre tais professores e seus alunos é altamente patológica. Convencido de que a fantasia que seu ego criou a respeito de si mesmo seja pura realidade, o hipermisticóide não conhece limites. Cria ao redor de si um forte campo psico-magnético neurótico capaz de atrair um grande número de pessoas que vibram em afinidade com esse campo. Gente pouco equilibrada, sofredora de variados tipos de carências, e caracterizada por um estado de infantilismo psicológico que lhe leva continuamente a projetar o seu centro de gravidade interno sobre alguém ou alguma coisa que existe no exterior de si mesmo. No caso, esse alvo externo é o guru. O ego do guru alimenta-se dessas projeções, chegando a situações espantosas de inflação. O pior é que esse é um sistema patológico que tende a ser exponencial: a exigência dos misticóides em relação ao guru aumenta mais e mais, obrigando-o a inventar a cada dia coisas mais mirabolantes, revelações mais espantosas, ameaças cada vez mais terríveis. Até que, um dia, acontece o inevitável: todo o sistema colapsa, desmorona, implode. Ou explode. Como resultado, na melhor das hipóteses, entre mortos e feridos salvam-se todos. Na pior das hipóteses morrem todos ou quase todos. Vide caso do massacre de Jim Jones na Guiana, ou os de seitas apocalípticas nos Estados Unidos, Suiça e Japão.
Deve-se fugir dos gurus charlatães como, diz-se, o diabo foge da cruz. A leitora Mariana tem razão: mil vezes aprender as lições sofridas porém sábias ministradas pela solidão do que deixar-se seduzir por falsos gurus.
Há muitos anos, quando comecei a dar meus primeiros passos em busca de vida espiritual, deparei com o problema crucial de saber distinguir entre professores falsos e verdadeiros. Quem primeiro me fez uma revelação que foi de grande ajuda foi Hermógenes, no Rio de Janeiro, meu primeiro professor de hatha ioga. Ele me contou que em todos nós existe um princípio inteligente infalível que os hindus chamam viveka, o discernimento. Quanto mais turbulento e caótico nosso mundo se torna, mais é necessário desenvolver um senso de claridade em nossa conduta como seres ao mesmo tempo terrenos e espirituais. Este senso de claridade é o discernimento. Quando iniciamos nossos passos incertos na estrada da vida interior, precisamos do discernimento para nos ajudar a determinar qual caminho, qual método é mais apropriado para nós, e para saber como integrar esse caminho na nossa vida do dia-a-dia.
Discernimento é a habilidade de perceber e separar aquilo que é verdadeiro daquilo que é falso. É a faculdade de percepção que nos mostra com exatidão quais são as opções de crescimento mais eficazes e verdadeiras para cada um de nós.
Uma boa consideração que ajuda a liberar a faculdade do discernimento é ter bem presente o fato de que as pessoas não são sempre aquilo que parecem ser. Isso é válido também para mestres e gurus, mesmo quando são bem conhecidos e aparentemente cheios de sucesso. A fachada que eles apresentam pode ser bastante confiável. Eles podem sempre dizer a coisa certa na hora certa. Tudo pode parecer claro e limpo na superfície. Mas, no entanto, no nível intuitivo interno você pode receber outros sinais. Sinais sutis, mas bastante evidentes se você aprender a reconhecê-los e a prestar atenção neles. Esses sinais vão lhe ajudar a discernir a natureza profunda daquilo que você está observando.
Se você “ouvir” com cuidado esses sinais, eles lhe dirão claramente se esse ou aquele professor, se esse ou aquele ensinamento têm realmente alguma coisa de genuina e válida para lhe oferecer. Tais sinais intuitivos são originários de um lugar mais profundo que a sua mente consciente. Quando você receber sinais desse tipo, eles poderão lhe parecer estranhos porque são disparados a partir de elementos que a sua mente consciente não consegue agarrar. Assim, você pode receber um sinal de “vá em frente”, sem conseguir saber ainda porque deveria “ir em frente”. Ou você pode receber “espere, fique quieto, não faça nada ainda”. Ou então captar um aviso ainda mais peremptório: “caia fora, saia daqui”, embora tudo ao redor pareça normal e tranqüilo.
Ouça a voz do seu próprio discernimento, e respeite as suas mensagens. Para o discernimento nada está oculto. Nós é que, muitas vezes, recusamos os seus avisos.
O discernimento, embora considerado uma função subjetiva da mente humana, é na verdade uma das formas através das quais nos fala o nosso mestre interno.
Podemos e devemos, no entanto, usar também nossas faculdades objetivas para conseguir separar o joio do trigo em matéria de mestres e de caminhos espirituais. O mesmo cuidado que é necessário para a boa escolha de um parceiro amoroso, deve ser usado na seleção das pessoas e das informações com as quais iremos nos associar em nossa busca espiritual.
Ao procurar por lições ou conselhos de um professor espiritual, você tem o direito de fazer-lhe uma porção de perguntas: Qual é a prática que ele tem disso? Há quanto tempo desempenha essa função? Quais as suas credenciais? Ele pode apresentar referências? Se eu me candidato a aluno e for aceito, o que posso esperar como resultado efetivo? Não assuma nada como verdadeiro apenas por causa do nome ou da fama do professor.
Muita propaganda, apresentação de graus escolares e de certificados também não garantem a qualidade do pofessor. Boa educação é sempre recomendável, mas lembre-se de que vários gurus falsos e incompetentes são extremamente bem educados.
Um mestre verdadeiro nunca irá apressar sua decisão, nunca tentará lhe persuadir a fazer qualquer coisa sem que você esteja absolutamente seguro de que quer fazê-la, nunca lhe fará sentir-se culpado por não estar pronto e decidido. Um mestre íntegro não hesitará em lhe recomendar um outro professor, ou um outro caminho, se julgar que isso convém a você. Um mestre deste tipo provavelmente vai querer também comprovar se você é digno e capaz de tê-lo como mestre, antes de aceitá-lo como discípulo.
Seja extremamente cauteloso com pessoas que fazem promessas exorbitantes, relacionadas particularmente com um progresso espiritual rápido ou até mesmo instantâneo (geralmente a preços também exorbitantes). Desconfie muito de propostas que envolvam desenvolvimento de poderes paranormais. O desabrochar desses poderes é conseqüência do desenvolvimento espiritual, e não sua causa. Não se deixe seduzir por conversa fiada. Para a imensa maioria das pessoas o progresso espiritual é lento e gradual, e pouco ou nada tem a ver com paranormalidade.
Proselitismo é um péssimo sinal. A relação entre um mestre verdadeiro e seus alunos é um sistema delicado que se instala e se desenvolve pouco a pouco, como um organismo vivo que obedece a precisas e imutáveis leis naturais. Por que um mestre quereria inchar seu corpo discente laçando indiscriminadamente seus alunos como vaqueiros fazem com bois no pasto?
Fuja de qualquer grupo ou organização que faça você se sentir mal a não ser que você se comporte exatamente como o grupo se comporta. Filosofias conformistas e comportamento de rebanho constituem terríveis ferramentas de controle social, e não têm nada a ver com crescimento espiritual.
Desconfie de gurus do tipo “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. Ou então, daqueles que afirmam: “a regra é para os discípulos, as exceções são para os mestres”. Um mestre verdadeiro deve ser coerente com aquilo que ensina. Deve dar o exemplo e, se for obrigado a transigir com a regra que ensina, deve explicar porque o faz.
Mas é preciso lembrar sempre que gurus também são pessoas, e como tais sujeitos às falhas, necessidades, destemperos e desequilíbrios comuns em todo e qualquer ser humano. Prefiro mil vezes um guru que ocasionalmente falha e tem a coragem de exibir sua falha e reconhecer que falhou, do que um que exibe uma máscara de perfeição e muitas vezes esconde atrás dela o seu lado hipócrita, falso e infernal. No primeiro posso, se não houver nada mais em contrário, confiar. Posso entendê-lo, pois, se ele tem falhas, está mais próximo de mim, que de falhas estou simplesmente repleto.
Para terminar, é preciso lembrar ainda que o crescimento espiritual é o objetivo maior da vida humana, e que a própria vida, a cada instante nos dá oportunidades de aprender e de crescer nesse sentido. Com a ajuda de mestres externos visíveis ou invisíveis, em contato com nosso mestre interno, na solidão ou em companhia de irmãos buscadores, o caminho em direção à luz espiritual é irreversível. Todas as ferramentas de que necessitamos para vencer esse grande desafio estão disponíveis. O discernimento é uma delas. Coragem, fé em si mesmo e no mundo, dedicação ao trabalho, paciência e grande senso de humor são algumas das outras.
Originally posted 2010-11-07 20:39:43.
Luis querido
amei seu texto, sua clareza de idéias , as orientações todas para alguem poder intuir e perceber o verdadeiro mestre, que afinal acaba sendo a própria vida e seus caminhos, alguns escolhidos, outros não.
Há tantas maneiras diferentes de aprender.Amigos, bons livros, boas viagens ( dentro e fora), terapia, silêncio..
Graf Dürckheim dizia que o mestre deve ser igaul a uma bomba de gasolina, onde os discipulos vão se abastecer para depois continuar seu próprio caminho, e não ficar girando em torno da bomba, indefinidamente!
Simples assim….
Um beijo!!
Assino embaixo as palabras da Mariana. Excelente matéria Luis!
Com depressão, me envolvi com um grupo (que transformou-se numa espécie de família para mim), liderado por uma pessoa do tipo citado aqui como guru apocaliptico e de onde fui expulsa por não ser igual aos demais(não ter alcançado o mesmo nível). Graças a Deus! heheh
Hoje posso sorrir, mas sofri um bocado! Recebi mil avisos intuitivos, no entanto com o emocional fragilizado nos tornamos presa fácil para esse tipo de gente, e as ferramentas que podemos usar como o discernimento, a auto-confiança e até o senso de humor ficam um tanto abalados. Daí ser tão comum esse tipo de coisa nos dias de hoje. Mas foi uma grande lição!
No entanto, acredito que a própria vida nos move e nos leva através de seus intrincados ou claros caminhos, com mestres ou sem eles, até a Luz. Abraço grande.
Olá Luis!
Vivemos em um planeta chamado Terra, com todas as suas adversidades possíveis e imagináveis.
Para cada aluno existe um professor. Para cada discípulo existe um mestre. Até mesmo para aqueles que dizem nunca ter recorrido a mestres e precisado deles.
Mas, que bom para aqueles que recorreram, precisaram e entenderam que fazer uso do “discernimento” é a porta para se alcançar a luz espiritual. Dói! Mas, é muito reconfortante.
Um abraço
Marta Lúcia
Pessoalmente, sempre convivi bem com os mistérios do mundo espiritual. sempre aceitei muito bem que não terei respostas conclusivas sobre “o lado de lá” e nunca me senti compelido a procurar gurus, jamais me vi atraído por esse tipo de canto da sereia. Sempre tive amigos com os quais aprendi muito, seja sobre a vida mundana do lado de cá, seja para compreender o que estava fora de meu alcance, ou pelo menos aceitar melhor. Mas sempre aceitei que certas coisas jamais seriam respondidas a contento e isso não me traz insegurança ou grilo algum.
Muito Obrigado Luis
Está mesmo difícil conviver com a salvação.
Tive uma hóspede com carteirinha intergalática, instalada 3 semanas na minha casa, se alimentando do super mercado espiritual da minha conta bancária, pois veio ao BraZil “ativar o cristal universal” no dia 10 de 10 de 10 seguindo outra pilota de disco voador americana que organizou o evento por apenas US$3000 na Chapada dos Guimarães…
11/11/11 Não voltará.