Muitas flores não podem em absoluto ser ingeridas pelos humanos e nem pelos animais. Elas podem estar bem perto, em nossos jardins, quintais, terraços, chamando a atenção pela sua beleza. Admirá-las, tudo bem. Mas nada de experimentar o sabor que elas têm.
Por: Luis Pellegrini
“Beleza não vai à mesa”, costumava ensinar aos netos minha avó Anna. Cheia da sabedoria popular da sua terra natal, o Vêneto, no norte da Itália, ela queria dizer que uma comida deve ser sadia e substanciosa, não necessariamente bonita. Mas seu conselho vem a calhar nos dias de hoje com a moda das saladas enfeitadas com profusão de pétalas de flores. Os pratos ficam lindos, leves e perfumados, e há uma grande variedade de flores comestíveis: pétalas de rosa, jasmim, girassol, violeta, amor-perfeito, nastúrcio, hibisco, lavanda, calêndula, angélica são algumas delas.
É preciso saber, no entanto, que um número muito grande de flores não podem em absoluto ser ingeridas pelos humanos e nem pelos animais. Muitas dessas belas flores são traiçoeiras, e podem estar bem perto, em nossos jardins, quintais, terraços, chamando a atenção pela sua beleza. Admirá-las, tudo bem. Mas nada de experimentar o sabor que elas têm. Os danos que podem acarretar incluem a morte. Estou falando das flores venenosas que estão por aí e quase ninguém sabe identificá-las. Pensando nisso mostramos algumas delas a seguir, em uma galeria de fotos. Algumas flores são tão venenosas que apenas o contato com elas já é capaz de desencadear um processo alérgico que pode levar ao fim.
Confira abaixo algumas dessas flores que carregam perigo por trás das suas belas formas, cores e perfumes.
1 Crisântemo – Em muitas culturas é a flor por excelência para se enfeitar caixões de defuntos. Mas o crisântemo (Chrysanthemum) tem várias outras utilidades. Na Europa e na Ásia, os agricultores o utilizam para manter à distância os coelhos: o centro da flor é tóxico, sobretudo para os animais. E embora não de maneira letal, pode provocar distúrbios como urticária, coceira, dermatite de contato também nos seres humanos. Os pequenos animais reconhecem o perigo e se afastam. Das flores do crisântemo se extrai um inseticida natural, o piretro, cujos efeitos não são perigosos para o homem (pelo menos não tão perigosos quanto aqueles inseticidas de derivação sintética). Como para todas as plantas, a toxidade do crisântemo responde a uma precisa exigência de defesa: ela se torna uma importante vantagem no confronto com os animais, frente aos quais as flores, por causa da sua imobilidade, não podem fugir.
2 Antúrio – O decorativo e belíssimo Antúrio (Anthurium) se apresenta em uma vasta gama de cores e tonalidades que vão do branco ao escarlate. Mas contente-se em apreciá-lo com a visão. Nada de leva-lo à boca. As folhas e raízes do antúrio, se ingeridas, podem provocar inchaço e inflamações na boca e nos lábios. Afeta inclusive a fala, tornando a voz rouca e arrastada, bem como dificuldade de deglutição. Os sintomas, por sorte, não duram muito. E, a não ser nos casos de intoxicação muito grave, desaparecem bebendo água gelada ou mastigando alcaçuz.
3 Hortência (Hydrangea macrophylla) – As suas características pétalas que vão do azul-violeta ao branco, passando pelo rosa, são muito apreciadas na jardinagem. Mas utilizá-las na cozinha, nem pensar, sobretudo a hortência da variedade Hydrangea Macrophylla. Come-la pode ser fatal. Depois de algum tempo ocorre uma forte diarreia, acompanhada de cólicas, coceira, sudorese e fraqueza. Para resumir, um envenenamento em alto estilo. Sem contar que em alguns casos de intoxicação pela ingestão de hortência ocorreram inclusive casos de coma profundo, convulsões e problemas graves de circulação sanguínea. O único antídoto conhecido é o mesmo que aquele usado contra o cianureto.
4 Oleandro (Nerium oleander) – Também conhecido no Brasil como loendro, loureiro-rosa, espirradeira, flor-de-São José, trata-se de uma planta ornamental muito difusa e muito usada como cerca-viva. Quando a admiramos em toda a sua beleza, fica difícil acreditar que todas as suas partes são venenosas. Inclusive a fumaça que se desprende dos seus ramos secos quando são queimados. Os sintomas da intoxicação por oleandro são característicos do envenenamento: náuseas, diarreia, vômito, dores abdominais), mas se a quantidade ingerida for muito grande, os problemas podem alcançar o coração, provocando desde arritmias até a depressão cardíaca, por causa do aumento dos níveis de potássio no sangue. Há casos de pessoas que se intoxicaram ao comer mel produzido por abelhas que se nutriram do pólen das flores do oleandro.
5 Narciso (Narcissus). Por trás da beleza mitológica do narciso se esconde a narcisina, um alcaloide venenoso que, se ingerido em grande quantidade, pode provocar náusea, vômitos, contrações e diarreia. Os sintomas costumam ser ainda mais graves nas crianças. Originário da Pérsia, o narciso cresce nas planícies e nas montanhas do sul da Europa. Suas pétalas são parecidas com as das flores da cebola, o que já levou algumas pessoas a colhe-las para usar como tempero na cozinha. O narciso é conhecido desde a remota antiguidade como flor de perfume inebriante e soporífero. Segundo a maior parte dos estudiosos de etimologia, a raiz da palavra narciso é “narké” (estupor, narcose), a mesma de narcótico.
6 Campainha ou dedaleira (Digitalis purpurea) – Dela se extrai o princípio ativo da digitalina, um fármaco indicado no tratamento da insuficiência cardíaca. Seus poderes já eram bem conhecidos na antiguidade e hoje está inserida no elenco das plantas medicinais espontâneas. Mas é preciso evitar a ingestão das flores selvagens: essa flor pode provocar problemas cardíacos, além de náusea, vômito, contrações estomacais. No caso de intoxicação, esses sintomas tendem a se agravar. A digitoxina, um dos glicosídeos ativos da digital é também uma boa aliada da medicina.
7 Ficus (Ficus benjamina) – Usada em toda a parte, nos jardins, quintais, calçadas ou em vasos, o conhecidíssimo ficus benjamin (Ficus benjamina) é uma planta muito resistente, com pouca necessidade de luz, o que a torna muito procurada para a decoração de apartamentos. Mas ela tem veneno. Ele está nas folhas e nas raízes: trata-se de um “látex branco” que pode provocar alergias e irritação quando entra em contato com a pele. Nada de muito grave, em geral, embora algumas tribos indígenas sul-americanas o utilizem para fazer flechas venenosas. Melhor também pensar bem antes de plantar um fícus ao lado de uma outra árvore. Algumas espécies (existem mais de 800 variedades conhecidas) são chamadas de “assassinas”: suas sementes germinam no topo de outras árvores, e suas raízes pouco a pouco envolvem a hospedeira, até sufocá-la.
8 Glicínia – Segundo alguns botânicos, a glicínia (Wisteria ou Wistaria) é tóxica em todas as suas partes. Outros cientistas no entanto limitam a sua periculosidade às sementes, raízes e bagas. Em todo caso, ingerir até mesmo uma pequena quantidade dessa planta provoca envenenamento. Ele normalmente se resolve com hidratação endovenosa ou a administração de pílulas contra a náusea. A maior parte dos envenenamentos por glicínias dizem respeito a animais domésticos. Muito bonita, a glicínia é uma das plantas mais apreciadas para a decoração de balcões, jardins, pérgolas e terraços.
9 Rododendro – Bem conhecido no Brasil por uma de suas variedades, a azaleia, o rododendro (Rhododendrum) é originário da região do Himalaia, na Ásia, onde floresce em toda parte na forma de arbustos de várias dimensões. Rosa, branco, vermelho, laranja, a gama de cores dessa planta é imensa. As abelhas a adoram, e a produção de mel a partir das flores de rododentro é enorme. Nem todas as variedades são tóxicas, mas há registros de casos de intoxicação por ingestão de mel de rododendro, sobretudo na região da Anatólia, na Turquia.
10 Muguet ou lírio-do-vale (Convallaria majalis) – Suas delicadas flores brancas, em forma de pequenos sinos, produzem um óleo perfumado muito usado na indústria dos perfumes. O muguet cresce espontaneamente nas zonas pré-alpinas da Itália, França e Suíça. Mas trata-se de uma planta inteiramente venenosa: ingerir uma pequena quantidade não provoca danos graves, mas à medida que a quantidade aumenta, surgem complicações cada vez mais graves, tais como náuseas, cólicas, chegando até a alterações do ritmo cardíaco. O muguet contem “convallatoxina”, um glicosídeo de alta atividade cárdio cinética.
11 Papoula do ópio (Papaver somniferum) – Provavelmente nenhuma outra flor causou tantos danos às pessoas do que a papoula do ópio. Mundialmente famosa por ser a base de onde se extrai o narcótico usado para a produção de heroína, ela foi inclusive uma ferramenta de guerra – como no caso das Guerras do Ópio, entre 1839-1842 e 1856-1860. Mas a planta produz flores belas e coloridas, que inclusive se adaptam perfeitamente bem a vasos. Mas os traficantes se interessam pouco ou nada pelas flores da papoula. Seu foco está na bolsa de sementes da papoula, da qual retiram alcaloides tais como a morfina que serve para a produção da heroína.
12 Trombetas dos anjos (Brugmansia suaveolens) – Muito bonitas e coloridas, e valorizadas por um nome poético, as flores da trombeta dos anjos é encantadora. Mas pessoas desavisadas que as consumirem como alimento podem realmente ouvir as trombetas dos anjos. Trata-se de uma planta nativa da América do Sul, que agora cresce livremente em todo o território americano. Todas as partes da planta contêm substâncias tóxicas tais como os alcaloides tropano escopolamina e a atropina. Quando ingerida em grande quantidade – o que já aconteceu com pessoas que buscam efeitos alucinógenos – a Brugmansia pode levar à morte por parada cardíaca.
13 Cicuta (Conium maculatum) – Mais conhecida como a planta que pôs fim à vida do filósofo grego Sócrates, a cicuta dispensa maiores comentários. Curiosamente, no entanto, embora todos conheçam os grandes envenenamentos de personagens históricos provocados pela cicuta, poucos sabem que essa planta é uma parente próxima da cenoura. Ela possui um poderoso alcaloide chamado coniina. Sua ingestão provoca náuseas e vômitos como sintomas iniciais, conduzindo a seguir à paralisia do sistema nervoso e à morte.
14 Jasmim manga (Plumeria rubra) – O jasmin manga é uma planta muito cultivada para fins decorativos, até porque suas folhas e flores encantam qualquer um. Mas ela também está na categoria das flores venenosas e tóxicas. A a planta possui um líquido leitoso que concentra muita toxina e, se ingerida, pode causar muitos danos à saúde.
15 Lírios (Amaryllis) – Todos os lírios são tóxicos em maior ou menor medida. Podem causar falência renal em gatos, até mesmo quando pequenas porções são ingeridas. Donos de gatos fazem bem em evita-las, pois o perfume que exalam pode ser irresistível sobretudo para gatos muito jovens. As toxinas dos lírios estão presentes inclusive no pólen dessas flores, e por isso é preciso ter cuidado quando as levamos para dentro de casa. Alguns lírios são tóxicos também para os cães, e este é o caso da variedade Calla lilies. Melhor deixar os bichos longe delas.
16 Flor do paraíso (Strelitzia regina) – Belíssima e muito elegante, a strelitzia é flor ornamental muito comum em todo o território americano. Mas atenção: ela é tóxica para cães, gatos e cavalos. Suas sementes contêm taninos tóxicos e as folhas podem conter ácidos hidrociânicos. Sinais de envenenamento por strelitzia incluem dificuldade para respirar, secreção ocular e desconforto digestivo.