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Líderes cantam de galo. Mas um outro inimigo se aproxima

Por Luis Pellegrini

Uma ameaça insidiosa poderá fazer baixar rapidamente a cortina do festival de bravatas atualmente em curso no Hemisfério Norte: invernos mais curtos e mais quentes colocarão em cheque a agricultura em todo o mundo, trazendo fome, carestia e êxodos climáticos nunca antes observados.

Na semana que termina, enquanto boa parte dos brasileiros saracoteava pelas ruas tentando aliviar tensões sob o poder mágico das batucadas, outra parte se deixava embalar nos templos pelos sermões dos pastores evangélicos, e uma outra parte pensava em como iria pagar as contas neste começo de março brabo, no Hemisfério Norte foi encenado mais um ato do show de horrores cujo final ninguém sabe como e quando será. Prima donna absoluta desse Grand Guignol de mau gosto, Donald Trump, em seu primeiro discurso no Congresso norte-americano, novamente bradou: “Tomaremos a Groenlândia!” E também o Canal do Panamá, a Faixa de Gaza, o Canadá, a Lua, Marte e provavelmente Saturno e Plutão.

Ao mesmo tempo, na França, Emmanuel Macron lança a ideia de uma dissuasão compartilhada entre seu país e a União Europeia como um todo. No cenário de um possível desengajamento dos EUA da OTAN-Organização do Tratado do Atlântico Norte, a posição de Paris se torna crucial: a França é o único Estado na Europa que possui armas nucleares e dispõe também de um arsenal totalmente independente.

Por seu lado, Zelemsky, depois da esfrega que levou no Salão Oval, agora declara estar pronto para assinar com os Estados Unidos o tal acordo sobre as terras raras do seu país. Enquanto isso drones russos continuam bombardeando cidades da Ucrânia. A população que se dane.

Em Gaza, o cessar fogo segue aos trancos e barrancos e, no dia a dia, quando os trancos superam os barrancos, mais algumas bombas caem sobre a martirizada população civil.

Sim, alguns grandes líderes parecem se divertir com o sofrimento dos menos guarnecidos. E, aparentemente inebriados pela farra dos seus desejos de grandeza, glória e poder, parecem não se dar conta das nuvens escuras e pesadas que já se formam no horizonte anunciando tempestade das grandes.

Quieta lá do outro lado do globo, a China começa a lançar alertas: estamos sim na iminência de uma catástrofe climática de proporções nunca antes vistas. E a hecatombe não será bem como esperávamos.

A Agência Xinhua, órgão de divulgação de notícias do governo chinês, publicou esta semana os resultados preocupantes de um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto de Física Atmosférica (IAP) da Academia Chinesa de Ciências, da Academia Chinesa de Ciências Meteorológicas e da Universidade de Albany – Universidade Estadual de Nova York. O estudo, publicado também na revista Climate and Atmospheric Science, explica que a mudança climática induzida pelo homem está tornando os eventos de frio extremo cada vez menos severos. Embora ondas de frio intensas ainda ocorram, sua intensidade e frequência diminuíram significativamente devido ao aquecimento global – desafiando a percepção comum de que a mudança climática paradoxalmente leva a invernos mais rigorosos.

“Nossas descobertas confirmam que a mudança climática induzida pelo homem está, na verdade, enfraquecendo os eventos de frio extremo”, disse Qian Cheng, professor do IAP.

O estudo revela que o aquecimento antropogênico reduziu a probabilidade e a intensidade de ondas de frio semelhantes à de 2023 em mais de 92% e 1,9 grau Celsius, respectivamente, em comparação com um mundo sem influência humana. Prevê-se que tais eventos se tornem ainda mais raros e amenos até o final do século, com uma redução de 95% na frequência e uma queda de mais de 2 graus Celsius na intensidade sob um cenário de emissões intermediárias. Os resultados destacam a necessidade de estratégias adaptativas urgentes para mitigar os impactos dos eventos de frio extremo, acrescentou Qian.

Como reagirá a agricultura em face de invernos que serão cada vez mais curtos e menos frios? A agricultura será diretamente impactada por invernos mais curtos e menos frios, trazendo tanto desafios quanto oportunidades.

Possíveis Benefícios:

Temporada de crescimento mais longa: Com invernos encurtados, o período de plantio e colheita se estende, permitindo maior produtividade e até múltiplas safras por ano em algumas regiões.
Menos danos por geadas: Temperaturas mais amenas reduzem os riscos de geadas tardias que podem prejudicar plantações jovens.
Expansão para novas áreas: Algumas culturas podem ser cultivadas em regiões antes muito frias para a agricultura.\

Desafios e Riscos:

Pragas e doenças agrícolas: O frio intenso tradicionalmente controla populações de pragas e patógenos. Invernos mais brandos podem levar a surtos maiores, exigindo mais pesticidas e manejo rigoroso.
Impacto no ciclo das culturas: Algumas plantas precisam de um período de dormência no inverno para florescer adequadamente (exemplo: trigo, macieiras e videiras). Invernos mais curtos podem prejudicar sua produtividade.
Mudanças na disponibilidade de água: Menos neve e gelo no inverno significam menor disponibilidade de água no verão, afetando plantações que dependem de derretimento para irrigação.

Adaptações Necessárias:

Desenvolvimento de variedades de plantas resistentes a novas condições climáticas.
Melhor manejo de irrigação para compensar possíveis secas.
Monitoramento e controle reforçado de pragas e doenças.
Ajuste de calendários agrícolas para se adaptar às novas estações.

Ou seja, a agricultura precisará se adaptar rapidamente às mudanças nos invernos para evitar perdas e aproveitar oportunidades de maior produtividade. Tudo isso exigirá investimentos colossais, sem o que corremos o risco de quebras de safras, escassez de alimentos, inflação, êxodos de milhões de pessoas famintas e desesperadas que, para sobreviver, tentarão migrar para lugares mais protegidos.

Enquanto isso, grandes líderes brincam de Lei de Gérson, cada um deles querendo levar vantagem em tudo…